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Por que percebemos a sombra como um lugar das vergonhas e falhas e não como lugar de transformação?

O que afinal de contas é a sombra pessoal? Por que tememos tanto esse contato com ela? Será que sombra é um local íntimo que deve permanecer intocado para não expor as nossas falhas, medos e sentimentos reprimidos? Para Carl Jung, que desenvolveu esse conceito, a sombra é um dos aspectos fundamentais no desenvolvimento da personalidade integral do homem e na busca da sua individuação.


Como você lida com a sua sombra: com vergonha e medo, ou você já é capaz de vê-la como uma reserva de desenvolvimento pessoal?


Neste artigo o meu desafio é oferecer a você leitor um outro entendimento sobre o que é a sombra. Se você é uma pessoa que busca mudança na sua vida e até hoje não tomou o contato com a sua sombra, seja bem-vindo, vamos explorar esse caminho de conhecimento.


Para iniciar a jornada de contato com a sombra, em primeiro lugar, é necessário dizer que essa entonação pesada e pejorativa de que na sombra habita o que temos de pior precisa ser imediatamente deixada. No lugar disso, é preciso substituir pelo entendimento de que a sombra oculta o que foi negado, reprimido ou ainda o que permanece desconhecido pelo indivíduo. É por aí que tudo vai começar.


Como a sombra guarda a nossa energia mais primitiva, temos dificuldade de admitir o que está oculto nela e passamos a ter vergonha disso. Porém, quanto mais negarmos, mais força a sombra terá. Nesta etapa, é possível reconhecer que ela existe e se trata de uma passagem para o autoconhecimento, para rever valores, crenças e sentimentos. Ou seja, a sombra então se torna uma poupança de desenvolvimento pessoal para a partir deste ponto aprimorar novos conhecimentos, talentos e forças.



Quanto mais a o indivíduo conhece o que está na sombra pessoal, mais elementos são dados para que haja estabilidade comportamental. Isso porque ela não será mais uma ameaça e passará a fazer parte de algo mais consciente e equilibrado. A sombra não é uma exclusividade de alguns, ela está presente em todos nós. Lidar com ela então é uma opção para o próprio aperfeiçoamento.


Sair do processo de acomodação exige coragem. Sendo assim, lidar com a sombra é chegar a um estado de autorrealização e de profundo conhecimento do próprio “eu”. Isso quer dizer atingir um grau de desenvolvimento que nos permita ter um vislumbre de todo o nosso potencial, da nossa integração, de tudo o que nos faz ser singulares e, ao mesmo tempo, parte integrante de um todo.


O enfrentamento da vergonha:


Existe um conto chamado As Orelhas do Rei que diz que um rei muito poderoso tinha tudo que um homem poderia desejar. Porém, ele tinha orelhas de burro. Essa era a única coisa que o incomodava, e temendo que suas orelhas fossem descobertas pelas pessoas e todos rissem dele, a cada vez que o rei tinha de cortar os cabelos o barbeiro que o atendia se surpreendia com suas enormes orelhas: “oh, majestade!” Isso o irritava muito e a cada vez ele mandava o barbeiro para a guilhotina.

Até que um dia lhe enviaram jovem aprendiz da profissão que chegou para cortar seus cabelos. Ao tirar seu chapéu, este não indagou por suas enormes orelhas. Pelo contrário, travou a língua e guardou para si o segredo.

Ao terminar o trabalho, ao invés de ir para a degola, desta vez o rei premiou o jovem com um saco de moedas de ouro. O jovem voltou para a casa muito feliz.

Este jovem que guardou o segredo, no entanto, passou a ser devorado pelo segredo que conservou. Adoeceu de tanta angústia. Com isso, o rapaz foi consultar um médico que recomendou que ele teria duas opções para se curar: ou contava o segredo a alguém ou então cavava um buraco no chão e contava o segredo ao buraco. Dessa forma ele se livraria dessa angústia.

Imediatamente ele foi embora e cavou um buraco na floresta mais próxima e gritou ao buraco com toda a força: “O Rei tem Orelhas de Burro!

Aliviado ele voltou para casa totalmente curado.

Ali naquele local cresceu um bambuzal que era extraído para fazer flautas. Logo, as crianças que passavam por lá cortaram os bambus para produzir flautas artesanais. Com os caniços eles saíram tocando, mas o único som que se emita das flautas daquele bambu era “O rei tem orelhas de burro! O rei tem orelhas de burro!”. Todos rolaram no chão de tanto rir e logo todo o vilarejo ficou sabendo da história e fez o mesmo.

Enfurecido, o rei mandou chamar o jovem e o questionou: “como ousas revelar o meu segredo?” falou ele preparando sua espada para matá-lo.

- O jovem exclamou: mas eu não contei a ninguém majestade!

- O rei novamente o indagou: então como é que todos estão rindo de mim? Como souberam?

- No que o jovem disse: não sei! Eu fiquei muito doente e sentindo-me muito infeliz segui o conselho do médico que disse que eu deveria cavar um buraco próximo ao bambuzal e contar o segredo ao buraco.

O rei deteve-se, mas como era muito justo foi pessoalmente verificar isso. Correu até o bambuzal e cortou o primeiro bambu que viu. Ao que preparou como flauta e soprou ouviu o som “o rei tem orelhas de burro! O rei tem orelhas de burro!

Conferindo que era verdade o monarca sentiu-se aliviado, pois já não tinha mais o que esconder. Ele nomeou o jovem como Barbeiro Real e a partir deste dia passou a rir de si. Seu reinado permaneceu tranquilo e ele viveu com leveza e felicidade até o fim dos seus dias.


Negar os medos e dores minimizam os riscos de seus esforços e superestimam suas capacidades. A consequência é o aumento da a arrogância, da soberba e a vergonha de suas próprias falhas.


Que lições você tira deste conto para tornar-se mais maduro e enfrentar os seus medos? Será que você ainda enxerga a sombra da mesma forma que antes? Comenta aqui para enriquecermos essa discussão sobre a sombra pessoal.


É mais comum que os homens se defrontem com essa questão da sombra e das suas vergonhas internas na meia-idade, na transição entre o arquétipo do herói e do patriarca, e esse é um ponto que eu abordo no Programa A Saga do Homem em Busca do Masculino Profundo. Além disso, como os homens lidam com suas emoções, dores e feridas; e como a negação da sombra está ligada ao machismo, assédios dentro das organizações e fraudes de diversos tipos.

Se deseja se desenvolver nesse tema e quer saber mais sobre o conteúdo do curso, acesse: https://www.jorgedornellesdeoliveira.com/programa-a-saga-do-homem



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Jorge Dornelles de Oliveira

Setembro de 2021


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