O elo perdido entre o resultado do negócio e o propósito do indivíduo
- jorgedoliveira
- 10 de out.
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Por que a conexão das pessoas com o trabalho está profundamente vinculada aos resultados concretos que elas produzem? Trabalhar é apenas uma questão de salário, ou uma questão de propósito?
Desde os primórdios da humanidade, o trabalho esteve intrinsecamente ligado aos frutos tangíveis da produção. Nas sociedades de caçadores-coletores, por exemplo, o sucesso de uma caçada se traduzia diretamente em alimento, assim como uma colheita farta garantia o sustento da comunidade. Nesse contexto, o vínculo entre o esforço despendido e o resultado obtido era imediato, visível e palpável. O trabalho era, em sua essência, um ato voltado para a sobrevivência.
Com o desenvolvimento da sociedade e surgimento dos artesãos e mestres de ofício, o trabalho transcendeu a mera atividade e se tornou a própria identidade do indivíduo. Ser ferreiro, carpinteiro ou padeiro não representava apenas um meio de sustento, mas a inserção em uma classe que ostentava orgulho pelo valor social de sua produção. Ao ver e tocar a obra de suas mãos, o artesão materializava seu esforço, encontrando assim um sentido palpável para o seu papel no mundo.
Mas a relação entre o ser humano e o trabalho foi se transformando a cada século, distanciando progressivamente a atividade laboral de seu sentido de propósito. Esse rompimento foi capturado de forma definitiva pelo clássico "Tempos Modernos" (1936), de Charles Chaplin, uma sátira crítica e humanista à desumanização imposta pela industrialização e pelo capitalismo moderno. Na cena mais icônica do filme, Carlitos é literalmente engolido pelas engrenagens de uma máquina. Uma metáfora perfeita para a nova condição do indivíduo, reduzido a um mero fragmento solto em um processo industrial imenso. O conflito entre a humanidade e a mecanização da vida moderna

O que ficou para trás quando o salário ocupou o vazio do propósito? Como esse rompimento esvaziou o sentido do trabalho?
Nesse contexto, a individualidade e a criatividade foram suprimidas cada vez mais. Especialmente com o avanço das trocas monetárias e a sofisticação da economia, a lógica do trabalho se transformou profundamente. O prazer direto de produzir [o resultado] e usufruir como fazer e saborear a própria cerveja, por exemplo foi substituído por uma mediação cada vez mais impessoal. Dessa forma, o eixo central de tudo passou a ser o salário. Não é mais o resultado do que eu crio, é o quanto eu recebo por isso.
Por mais que pareça controverso, a importância da convergência entre o resultado do negócio e o propósito do indivíduo transcende a esfera da produtividade e adentra territórios fundamentais da psicologia humana. Na base dessa relação está a necessidade intrínseca de significado, conceito explorado por Viktor Frankl, que defendia que a busca por sentido é força motriz primária do ser humano. Quando o trabalho se reduz a instrumento de geração de resultados desconexos da identidade do trabalhador, instala-se um vazio existencial que mina não apenas a motivação, mas a própria integridade psíquica. O indivíduo torna-se um desconhecido em sua própria vida laboral, executando tarefas cujo significado final ignora ou contradiz seus valores fundamentais.
O que a ciência revela sobre o poder de ter um propósito?
O pensamento de Viktor Frankl encontra respaldo empírico em estudos de larga escala. A Korn Ferry, em sua análise Global Talent Monitor (2019-2020) com mais de um milhão de profissionais, constatou que, para a maioria dos funcionários, propósito e cultura organizacional superam o salário em importância. Este dado revela que o engajamento genuíno surge quando as empresas conjugam um propósito claro a uma cultura sólida e oportunidades de desenvolvimento. Como resultado, um número significativo de profissionais demonstra a disposição para recusar propostas financeiramente superiores em favor de um ambiente alinhado aos seus valores e aspirações.
Fundamentalmente, a reconciliação entre negócio e propósito não é questão de idealismo, mas de inteligência psicológica. Empresas que compreendem isso criam ecossistemas onde o sucesso organizacional alimenta e é alimentado pelo crescimento individual, estabelecendo um ciclo virtuoso como descreve Maslow, na hierarquia de necessidades. Ao integrar trabalho e propósito, é possível que colaboradores transcendam necessidades básicas de segurança e pertencimento para alcançar níveis mais elevados de realização. Nesse contexto, os resultados deixam de ser apenas métricas financeiras para transformarem-se em medidas concretas de impacto humano, únicos indicadores com poder de sustentar a excelência no longo prazo, pois estão ancorados no que há de mais profundamente humano: a necessidade de que nosso existir, inclusive no trabalho, faça sentido.
Como sintetizar as distintas visões de trabalho e propósito das gerações para construir um ambiente ao mesmo tempo produtivo e humanizado?
Embora a Geração X tenha sido marcada pela disciplina e pela busca de estabilidade, enxergando a carreira e o sucesso profissional como os maiores símbolos de conquista, essa visão começou a se transformar com os Millennials (Geração Y). Criados em um contexto de abundância de escolhas e mudanças aceleradas, eles passaram a questionar a rigidez do trabalho tradicional e a valorizar mais a flexibilidade, ainda que mantendo certo apreço por estruturas e carreiras sólidas. Dando continuidade a essa evolução, a Geração Z tenta, ainda que de forma incerta, e por vezes confusa, resgatar algo essencial que se perdeu pelo caminho: a necessidade de encontrar propósito no que se faz. Muitos jovens dessa geração demonstram pouco interesse por carreiras convencionais e rejeitam a ideia de trabalhar apenas por dinheiro, mesmo que ainda estejam aprendendo a transformar esse ideal em uma prática concreta e sustentável.
Esse movimento nos convida a refletir sobre o que o trabalho se tornou, tanto no âmbito individual quanto no coletivo. As empresas, diante de um cenário de insatisfação e baixo engajamento, têm investido em treinamentos de competências técnicas e relacionais que, muitas vezes, funcionam apenas como atenuantes. Reduzem tensões momentâneas, mas não tocam a essência do problema. O distanciamento entre o que fazemos e o impacto real do que produzimos gera consequências mais profundas. O que falta é justamente recuperar a conexão entre atividade, resultado e propósito. Essa reconexão não nasce apenas do desenvolvimento de habilidades individuais nem da criação de ambientes mais colaborativos; ela exige algo mais profundo, a vivência autêntica de trabalhar em equipe com clareza de propósito e foco no resultado coletivo.
O team coaching surge nesse cenário como uma abordagem moderna e eficaz para solucionar essa questão. Diferentemente dos treinamentos tradicionais, ele vai além do desenvolvimento isolado de competências, criando um espaço onde cada pessoa compreende como sua contribuição está conectada a todo. Nesse processo, o resultado é resgatado como fruto do esforço coletivo. O team coaching promove a unidade, reconstrói o sentido do trabalho e ajuda os indivíduos a perceberem que suas atividades não são apenas tarefas, mas partes essenciais de um resultado maior que, por sua vez, fortalece o propósito comum. O desafio atual vai além de simplesmente ensinar novas competências ou melhorar as relações no ambiente de trabalho, mas de recuperar o vínculo perdido entre os resultados do negócio e o propósito individual de cada pessoa.
Para você, o propósito é um alicerce fundamental para o seu trabalho ou um ideal distante? O que verdadeiramente mobiliza a energia e compromisso do seu time?
Com mais de 25 anos de experiência em coaching e mais de 7.000 horas dedicadas ao desenvolvimento humano, meu compromisso é oferecer processos personalizados que potencializam e fortaleçam o trabalho de times e líderes. Sou Jorge Dornelles de Oliveira e coloco-me à disposição para criar um atendimento sob medida, alinhado às suas necessidades. Entre em contato pelo WhatsApp (11) 97675-3380 e vamos construir juntos uma trajetória verdadeiramente transformadora para você ou sua equipe.
Jorge Dornelles de Oliveira
Outubro de 2025
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