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Como a diversidade se tornou a força transformadora do mundo?

Por que o conceito de diversidade ganhou tanta relevância no mundo?

O que faz com que a diversidade gere tanto valor para a sociedade?


O estranhamento com o diferente fez com que grupos e indivíduos reafirmassem seus particularismos locais e suas identidades étnicas, raciais, culturais ou religiosas, chamando a atenção para as suas características e apresentando um tema desafiador que precisou ser desenvolvido no âmbito global. A ascensão da diversidade é uma marca importante que reforça o nosso desenvolvimento como sociedade. Mas ainda há um caminho a percorrer para que esse cenário opere em sinergia.


Ainda que diante da sua dimensão não restem dúvidas, é preciso avaliar como esse processo histórico nos trouxe até aqui e como a percepção do assunto ainda é assimilada mais pelas “diferenças” do que pelo poder que a diversidade pode produzir. Na grande maioria das vezes os medos irracionais impedem que tenhamos a confiança necessária para nos abrirmos ao novo.


Para você a diversidade acirra o conflito ou é notada como um elemento de integração entre pessoas?


Desde que passei a pesquisar esse tema e a atuar com ele observo que existe uma espécie de linha do tempo da diversidade que historicamente vem acontecendo em camadas, ou melhor dizendo, o assunto vem sendo abordado “de fora para dentro”, do campo material para o imaterial, até chegar nas características do indivíduo.


Lévi-Strauss, filósofo e antropólogo francês que estudou a questão da diversidade cultural profundamente avalia que para compreender como e em que medida as culturas humanas diferem entre si, se estas diferenças se anulam ou contradizem, ou se concorrem para formar um conjunto harmonioso, devemos em primeiro lugar traçar o seu inventário.


Por isso é inevitável não mencionar que no período do colonialismo quando os europeus chegaram nas américas e no oriente a diferença cultural (que engloba entre outras coisas costumes, vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos) foi encarada de forma conflitante. O modo de lidar com isso foi impondo o domínio cultural e usando a predominância da força. A representação dessa relação arbitrária pode ser encontrada nas obras do artista francês Jean-Batist Debret, que foi convidado por Dom João VI para vir ao Brasil retratar o cotidiano de vida na colônia.


As primeiras abordagens da diversidade racial (que aconteceram no mesmo período) tiveram olhares semelhantes: o processo de dominação prevaleceu no encontro entre os díspares e foi sucedido por episódios de violência e escravização. O tema só obteve a merecida atenção quando Martin Luther King, nos anos 60, passou a liderar uma série de protestos em diferentes cidades norte-americanas contra a segregação e a desigualdade racial e pelos direitos civis do negro chamando a atenção do mundo para o tema. A memorável Marcha sobre Washington, capital dos Estados Unidos, em agosto de 1963, foi um evento emblemático que ajudou a difundir o assunto em outros locais criando uma mentalidade de aceitação que até então não se discutia.


Em que situações a diversidade proporcionou uma forma autêntica de colaborar com soluções inovadoras?


A jornada pela paridade de gênero no mercado corporativo ainda é um longo caminho. Apenas 3,5% das corporações brasileiras possuem mulheres atuando como CEO segundo estudos recentes. Há algumas décadas a mulher sequer tinha o direito ao voto. Fruto da desigualdade de gênero, que ocorre quando há privilégio de um gênero em detrimento de outro, ou outros. Mas foi lá atrás, com o movimento sufragista, liderado por Emmeline Pankhurst no século XIX, que as primeiras reivindicações pela participação ativa das mulheres no campo igualitário foram apresentadas. Com muita luta e gradativamente as mulheres foram adquirindo consciência sobre o assunto e obtiveram o direito de votar, de trabalhar, de se divorciar, de praticar determinados esportes, terem independência. Superaram a resistência que havia quando ideias patriarcais foram questionadas de forma organizada.


Se hoje falamos abertamente sobre a diversidade sexual LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgênero e intersexo) e isso domina as pautas das organizações, o cenário de décadas anteriores mostrava o contrário. A diversidade sexual (termo usado para referir-se de maneira inclusiva a toda a diversidade se sexos, orientações sexuais, identidades e expressões de gêneros sem necessidade de especificar cada uma das identidades que compreendem a pluralidade) era um tabu na sociedade. Em 1960, quando era um considerado crime nos Estados Unidos a relação de pessoas do mesmo sexo, houve um conflito que abriu as portas para as conquistas que existem atualmente. Foi no Stonewall, um pub em Nova Iorque.


Após uma revolta da população local contra uma ação policial que prenderia os frequentadores gays e drag queens (bares não podiam vender bebidas alcoólicas a eles) aconteceu uma revolta acompanhada de uma mobilização popular que impediu a saída da polícia do local. O ato teve uma repercussão tão grande que provocou uma série de passeatas nas semanas seguintes; mobilizou a sociedade e se tornou um símbolo da luta pela igualdade sexual no mundo. A força deste episódio foi relatada no livro Stonewall de Leandro Colling. Segundo o autor a repercussão foi capaz de alterar as políticas públicas e identitárias desenvolvidas nos Estados Unidos e se tornou um marco.


Para você o simples motivo de existir algo diferente já causa estranhamento em um primeiro momento? Como você percebe a diversidade?


As questões mais recentes sobre a pluralidade da diversidade estão voltadas para a diversidade de pensamento (que inclui diferenças em pessoas com capacidades, estilos, habilidades e personalidades diferentes em um ambiente). Embora pareça algo menos complexo de desenvolver isso envolve nossos padrões e reações instintivas ao lidar com formas de pensar diferentes das nossas e estabelece a polarização.


Assim como mencionei no início do artigo, após passarmos por diferentes camadas da diversidade o caminho atual indica que chegaremos até a individuação, ou seja, a diversidade do Ser. Uma evidência de que futuramente não nos preocuparemos com a diversidade étnica, sexual, de gênero etc. O olhar deverá se voltar para o cerne do indivíduo e como ele agrega pelo fato de ele ser quem ele é. E talvez possamos enfim ver realizada uma parte do sonho de Martin Luther King: “Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”. Isso talvez seja uma definição simbólica de como se perceberá a diversidade do Ser.


O fato de elencar momentos históricos de conflitos e a mudança de consciência ao longo do tempo ilustra como a questão tem avançado em diferentes cenários. Atingir a consciência do grau de diversidade é um fator que pode inclusive ser mensurado e trabalhado estrategicamente para criar uma sinergia positiva e oferecer resultados inovadores quando o diverso entra em ação.


A conclusão disso tudo é que diversidade é muito mais do que oferecer um ambiente auspicioso para se conviver. Só isso não é o suficiente para minimizar os atritos que existem quando polos se digladiam. E como a diversidade gera uma insegurança em quem enxerga o diferente como uma anomalia nós temos então uma série de desafios subsequentes para resolver. Nesse momento surgem questões novas: como conviver com a diversidade? Como respeitar essa pessoa? Como me comunicar da forma certa com essa pessoa?


Promover a diversidade apenas pelo “exótico” por si não produz nenhum efeito e tende naturalmente a instigar as diferenças e suscitar atritos. Da mesma maneira é necessário que a diversidade não seja usada de forma defensiva como se o diferente fosse uma arma. Além, é claro, e desenvolver uma forma coerente de se expressar de modo que as pessoas não se sintam desconfortáveis ou diminuídas.


A chave para resolver esse conflito é trabalhar o que chamo de trio de ouro: diversidade, equidade e inclusão. Um caminho que começa pelo conhecimento e o entendimento do conceito de diversidade. Quando o mundo começou a entender que um jeito de lidar com a diversidade é promovendo e viabilizando a equidade (que é aceitar as diferenças e olhar mais para a igualdade de oportunidades) as relações evoluíram nesse sentido. O conceito de equidade começou a ser debatido pela primeira vez pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1986, aparecendo na Carta de Ottawa. Ou seja, é algo muito recente na nossa história. Porém é por meio dela que finalmente podemos chegar no real conceito de inclusão, que é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter a vantagem de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. Desse ponto em diante a diversidade começa a operar com efeitos admiráveis.


A forma de avaliarmos o nosso grau de consciência da diversidade pode ser utilizando o modelo de escala da consciência da diversidade é esclarecedor e pode ser um excelente recurso. Ele foi desenvolvido pelo Coaching and Mentoring International & GTCI com Peter Hawkins e David Clutterbuck. O modelo serve como um caminho de autopercepção que ajuda a distinguir em qual nível cada um de nós se encontra.

Os cinco estágios são:

§ Medo: é caracterizado por baixa autoconsciência e baixa consciência dos outros;

§ Desconfiança: é quando o indivíduo é suficientemente autoconsciente e consciente dos outros para reconhecer que seus os medos são irracionais, mas, falta a confiança necessária para ser verdadeiramente aberto com as pessoas que ele percebe como diferentes;

§ Tolerância: as pessoas que expressam tolerância a outros grupos geralmente não conseguem abandonar seus próprios sentimentos de superioridade. A tolerância não envolve nenhuma tentativa de entender questões e acontecimentos do outro;

§ Aceitação: envolve a compreensão de que as perspectivas da outra pessoa são válidas, bem-intencionados e razoáveis, em seu próprio contexto;

§ Apreciação: leva o relacionamento e a conversa para os domínios da aprendizagem mútua. A diferença se torna um impulsionador da mudança, da autoconsciência e da criação de um grupo mais aberto, saudável e inclusivo.

O objetivo dessa avaliação interna é chegar a um estágio em que eu possa não apenas aceitar o outro, me colocando na sua perspectiva, ou seja, vestindo os seus sapatos, como se diz, mas também atingir a maturidade suficiente para aprender com ele. Lidar com a diversidade nem sempre é um processo natural, por isso pode exigir um movimento interno de superação que requer o reconhecimento e o desenvolvimento de emoções e atitudes que levem à aceitação do outro, e possivelmente, a uma convivência de aprendizagem mútua.

Como você avalia os ganhos que a diversidade pode oferecer? Em que grau dessa escada você se encontra atualmente?

Se deseja ter apoio de coach profissional para se desenvolver nesse tema entre em contato: jorge.dornelles.oliveira@ggnconsultoria.com.br Whats app (11) 96396.9951


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Jorge Dornelles de Oliveira

Março de 2022


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