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É possível diversidade sem liberdade de pensamento?

Atualizado: 5 de nov. de 2020

: : mapeando a cadeira do CEO : :


A supervalorização do conceito de diversidade tem deixado pouco espaço para reflexão sobre o seu significado, na prática. Confundida com identidade de gênero ou diferenças cultural-ideológicas, e até mesmo religiosas, a diversidade está mais para a prática de um esporte radical, no atual panorama do cancelamento, do que para o saudável exercício da democracia.

O conceito implica no respeito ao que é diverso ou diferente e deveria estar na base de tudo, especialmente entre os times que hoje trabalham dentro das organizações com diferentes nacionalidades, etnias e etc. Pressupõe que cada um possa se expressar como deseja e que existirá uma troca que vai estimular novos aprendizados, vivências e novas percepções. Ou seja, para que isso aconteça verdadeiramente, é preciso haver não apenas liberdade de expressão mas também de pensamento, aí está a essência da diversidade.

No dia a dia organizacional, porém, os grupos têm se alinhado ideologicamente em torno de questões fechadas, não dando chance para o pensar singular e legitimo. Se alguém se expressa de forma diferente ou se posiciona de um jeito diverso ao do grupo, corre o risco de ser aniquilado ou excluído (não só nas mídias sociais). Se em compensação, se comporta conforme a expectativa de seus pares, é amplamente aplaudido.

Não se assemelha a um comportamento de manada? Talvez Freud fizesse um paralelo mais sofisticado sugerindo que esse tipo de comportamento é comparável aos que se iludem quando cultuam uma religião, especialmente quando ela é uma forma de fazer com que haja uma obediência a um sistema de doutrinas e promessas -- conforme o seu “Mal-estar da Civilização”.

Aliás, a propósito da psicanálise, a diversidade deveria implicar ainda no reconhecimento da existência do outro, e numa abertura para ouvi-lo verdadeiramente.

“Eu posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser mas defenderei até a morte o direito de você dize-las”. Atribuída à Voltaire, a frase poderia resumir: eu preciso ouvir e respeitar o que você pensa. Será que não estamos indo exatamente na contramão desse que deveria ser o mais essencial dos direitos, entre os seres do tipo humanos?

Eu respeito o seu direito de pensar ?

Eu ouço o que você diz e o que pensa?

São essas as indagações que preservam a liberdade de expressão e de pensamento que poderiam incentivar um movimento de grupo que vá além dessa diversidade plástica, sem lastro - seja no ambiente de trabalho ou ao nível das relações pessoais -, para fugir do risco de minar muito rapidamente a saúde de uma comunidade ou de uma organização.

Marcharem todos na mesma direção, a médio prazo parece trazer um ganho até porque com a divergência de pensamento existe, é claro, uma perda de energia. Em compensação, elimina-se o risco de ser desenvolvido um mecanismo autofágico que pode fazer com que os integrantes de um grupo passem a se “alimentar” uns dos outros.

Como você lida com o reconhecimento da diversidade não apenas no grupo, mas internamente ?


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