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Feedback no processo de coaching. Potência ou heresia?

: : reflexões sobre coach : :


Dentre os diversos mitos e verdades sobre processos de coaching, tais como ‘coach não julga’ ou ‘coach não interrompe o cliente’ – já explorados em artigos anteriores --, um me chama a atenção em particular: o de que coach não pode dar feedback. Dependendo da linha que você segue, é possível que esteja considerando que isso é realmente um absurdo, ou não. Talvez você ache que é óbvio o coach dar feedbacks .


Sem dúvida, eu não me refiro ao feedback formal, nos moldes do que acontece entre gestores e colaboradores, ou entre pares, no trabalho. Quando o assunto é coaching, devemos ter em mente que o coração do processo é a relação coach-coachee. E que, para que essa relação funcione verdadeiramente, é fundamental que se estabeleça um processo de confiança e intimidade profissional, com autorização para que, tanto coach como o coachee, possam se expressar da forma como realmente são.


Esse tipo de relação só pode acontecer se houver um constante ajuste de percepção entre as duas pessoas, num processo on real timing, ou seja, de tal forma que haja uma atenção permanente de um sobre o outro, o tempo todo, e sobre o que está acontecendo entre os dois, com liberdade para que ambos se manifestem.


Você já deve ter percebido que estamos falando aqui de uma espécie de feedback constante que autocalibra a relação: quanto mais verdadeiro e mais forte é esse exercício, mais se cria intimidade e espaço para que as trocas sejam efetivas e frequentes.


Numa sessão um cliente me relatava uma situação de forma não muito clara. Eu estava absorto nisso quando ele me perguntou: Você está irritado? Você está nervoso? Eu então devolvi a pergunta indagando o que levava a achar isso. E ele: “é que você está balançando o seu pé”. Percebi então que estava efetivamente irritado e que essa irritação vinha do fato dele estar repetindo um padrão que já tínhamos trabalhado algumas vezes.


Eu poderia ter dito que o movimento do meu pé era involuntário mas optei por compartilhar o que tinha descoberto, naquele momento, que de fato eu estava manifestando minha irritação ( por não estar conseguindo ajuda-lo a avançar – estava até reforçando o padrão e “patinando” junto) . A partir disso, nós avançamos. Ele saiu do looping e eu também.



Essa abertura para dar feedback nas duas direções, do coach para o cliente e vice-versa, é bastante diferente de processo de feedback onde o coach faz uma avaliação de um comportamento ou dá uma espécie de devolutiva sobre alguma questão do cliente. Embora muitas linhas de coaching partam de uma avaliação inicial do cliente, com assessments ( não é disso que eu estou falando), eu reforço: em coaching o processo de feedback surge da intimidade e da capacidade de observação que ambos, coach e coachee mantêm dentro da sessão.


Então, nesse sentido o coach não só pode, como deve dar feedback, principalmente quando percebe a manifestação de padrões que o cliente deseja transformar e que se manifestam ao vivo e a cores durante as sessões. Sem dúvidas, esse é um feedback valioso.


Mas como fazer isso de forma segura e sem fugir do papel do coach?


Algumas dicas/cuidados que você pode observar:


1) Na contratação, ajuste com seu cliente que o espaço da relação é um espaço de aprendizado para os dois e que é importante que as duas partes estejam atentas e presentes para o que está acontecendo de verdade, na interação. E que sempre que desejarem, poderão trocar feedbacks mútuos para tornar o processo cada vez mais efetivo;

2) Lembre que os feedbacks vêm da observação do que ocorre no espaço da sessão: da forma como seu cliente se movimenta ou como ele gesticula; da sua expressão corporal, do seu tom de voz, dos seus gestos repetitivos. Possivelmente, são reações ao que está acontecendo na interação e é muito importante que se possa falar sobre isso ou explorar isto, sempre ligando ao contexto do tema que está sendo explorado. Lembre ainda que a recíproca é verdadeira, da mesma forma como você o observa, ele também pode observar e fazer leituras do seu comportamento, com espaço para se manifestar.


3)Esteja aberto para dar e receber feedbacks. Você é responsável pelo processo e ele é responsável pelo conteúdo. Ambos são adultos e estão comprometidos com os resultados. Além disso, para que processo se mantenha vivo, vocês podem e devem atuar ativamente.


4) Você tem uma posição privilegiada para poder dar feedback verdadeiros para o seu cliente, o que é muito diferente de um amigo ou até mesmo de um gestor que sempre terá outros interesses.


Como lida com o feedback em seus processos de coaching?


Que cuidados ou dicas você tem a respeito deste tema?



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