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A saga do homem em busca do masculino profundo

Qual é o papel do homem no mundo contemporâneo?


O meu contato com esse tema aconteceu quando eu li o livro de Allan B. Chinen, Além do Herói, histórias clássicas de homens em busca da alma. Evidentemente como homem eu já refletia sobre o assunto. Para longe dos estereótipos do masculino politicamente correto eu sempre me interessei em entender na verdade qual é o papel do masculino no mundo atual e isso sem dúvida foi atuando no meu processo de transformação pessoal.


Existem muitos materiais sobre os processos de mudança e até de libertação do feminino nas mulheres. Contudo, a literatura é relativamente reduzida sobre o processo do masculino. O poeta Robert Bly foi quem cunhou essa denominação masculino profundo e foi essa a minha inspiração para começar a escrever no blog e, ao longo do tempo, experimentar essa pesquisa na minha forma de ser masculino no mundo.


O conceito central é entender qual é o papel dos seres humanos que nasceram do sexo masculino e se identificam com as características deste sexo - o que se chama hoje homens CIS. Sem considerar todas as outras possibilidades minha pesquisa procura entender por que esse grupo de homens, na sua maioria, encontra-se confuso ou indeciso sobre como se posicionar no mundo atual e que consequências essa insegurança traz.


Neste campo as mulheres avançaram muito no entendimento do seu papel e em certo sentido criaram as suas definições de limites. Por outro lado, os homens permaneceram estagnados neste aspecto com atitudes percebidas, às vezes, como machistas, heteronormativas e muitas outras denominações.


Como você se sente como homem no mundo? De que forma você expressa o masculino?


A minha ponderação é que com isso alguns homens ficam confusos em relação a sua própria masculinidade de uma forma mais profunda. É como se os homens fossem culpados por tudo que aconteceu no mundo até agora. Como se fossem igualmente os agentes solitários de tudo. Com isso, não se nega a responsabilidade de tudo o que aconteceu e de todos os privilégios que existem pelo fato se ter nascido do sexo masculino. Porém, até isto coloca nos ombros dos homens enormes responsabilidades, sem em muitos casos abrir a eles a possibilidade de dizer claramente que não estão dispostos aceitar mais esses encargos.


A sociedade ainda que condene todos esses privilégios, demanda que os homens assumam algumas atitudes e responsabilidades que uma vez assumidas os coloca automaticamente nesse grupo dos dominadores, isso é um paradoxo. Desse modo existe uma cobrança muito forte de que o ajuste de contas seja feito aqui e agora. Eu não me refiro somente na relação homem/mulher. Aliás, o foco desse trabalho não é propriamente essa relação, mas sim como o homem se posiciona no mundo por meio do masculino profundo e como impacta no relacionamento com todos os outros grupos sociais.


Ao pesquisar como se construiu o papel do masculino ao longo do tempo, o autor do livro foi extremamente útil mostrando que o arquétipo do masculino evoluiu; ou melhor involuiu, a partir do (Caçador- Xamã- Malandro) que guardava uma relação muito próxima entre o lado humano e o lado animal do homem, isto é, a função do arquétipo mais primitivo que era a de caçar e alimentar a comunidade. Com a fixação do homem ao território os homens foram convidados a se transformarem em guerreiros para defender as comunidades, ao passo que as mulheres assumiram o papel de plantar e do preparar os alimentos.


Você já deixou de ser quem você é para ser o que esperam que você seja?


Desde este momento até hoje os homens afastaram-se cada vez mais desse papel flexível e provedor do Caçador-Xamã-Malandro e caminharam fortemente na direção de se tornarem guerreiros e patriarcas. Ou seja, adotaram a postura de ‘rei’ ou daquele que é incumbido de cuidar das regras e manter a ferro e fogo a estrutura social. A arqueologia por meio dos contos mostra claramente como esses papéis foram sendo desenvolvidos ao longo da história nas diversas culturas.


Se aceitarmos que todos os eventos psíquicos apresentam uma correspondência com um padrão arquetípico, pois os arquétipos são as matrizes hereditárias que coordenam a formação dos símbolos para a estruturação da psiquê; e que os arquétipos fazem parte de uma memória ancestral que segundo o psiquiatra Carl Jung, estaria inscrita “debaixo da nossa pele” em todos os seres humanos. Assim, esses arquétipos e essas percepções do papel do masculino e do comportamento do homem são algo que provém de muitas gerações e que para ser transformado pressupõem que se acesse ou que se resgate arquétipos esquecidos e menosprezados ao longo de milhões de anos e que estão vivos no inconsciente coletivo e na própria pele, como é o caso da tríade citada acima.


Portanto, fica a questão de como resgatar no homem contemporâneo esses arquétipos muito mais antigos que fazem parte da própria alma do masculino e que se chama masculino profundo. Para que esse resgate aconteça desenvolvemos um caminho que leva os homens a explorar as suas vivências com o feminino (com o seu feminino interno), e a partir de uma perspectiva masculina que também lida com as suas sombras, isto é, com aquilo que não foi explorado ainda.


A partir disso é possível resgatar as qualidades de flexibilidade e de uma percepção melhor do seu papel masculino maduro, capaz de conviver com todos os grupos de igual para igual. Dessa forma aceitar que sim há privilégios que não serão mudados de uma hora para outra, mas sim ao longo do tempo e na medida o mundo também entenda que este arquétipo pode ser transformado. Resultando em ganhos como mais harmonia nas relações e removendo dos ombros um grande peso por poder compartilhar e sair desse lugar que de certa forma nos últimos tempos tem sido imposto.


Diante desses inputs teóricos e da minha experiência prática nessa busca de uma nova relação com o masculino, surgiu a ideia de apoiar outros homens nessa jornada. Surge então em parceira com o Ronaldo Perlatto, médico antroposófico e aconselhador biográfico, o Programa A saga do Homem em busca do Masculino profundo.

A ideia do programa é simples e parte da seguinte reflexão:

· Qual é o meu papel como homem hoje no mundo?

· Como eu quero exercer a masculinidade no mundo?

· Como começar nesse novo caminho?


Se você deseja saber mais sobre o assunto e tem interesse em saber sobre o conteúdo do programa entre em contato:


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Jorge Dornelles de Oliveira

Maio de 2021




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