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O arquear de sobrancelhas de Miranda Priestly e o impacto silencioso no mundo corporativo

  • Foto do escritor: jorgedoliveira
    jorgedoliveira
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura

Qual o significado e o impacto da linguagem não verbal como gestos, postura e expressões faciais no ambiente organizacional, especialmente em contextos de liderança, negociação e tomada de decisão?


O filme O Diabo Veste Prada (2006) é um clássico que, sob o verniz glamouroso do mundo da moda, revela dinâmicas de poder sutis e nem tão sutis assim. Apesar de ser uma comédia, muitas das cenas são quase ontológicas, escancarando o esforço desesperado dos “seguidores” para decodificar a mente de Miranda Priestly e satisfazer seus desejos sem que uma única palavra seja dita.


Há uma cena icônica em que um estilista apresenta sua nova coleção para Miranda. Todos observam atentos se irá ela arquear a sobrancelha, e há ainda um quase imperceptível movimento da boca. Aquele modelo está automaticamente descartado. Um gesto mínimo, mas absolutamente definitivo. O julgamento se dá pelo não dito.


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Pode parecer exagero cinematográfico, mas não é. Essa lógica sutil e silenciosa de comando está presente, cada vez mais, no dia a dia corporativo,  inclusive nos processos de contratação de coaching executivo e, especialmente, no trabalho com boards.


Hoje, CEOs e executivos C-Level tentam substituir o comando e controle escancarado do passado por algo mais sutil. É o que chamo de “arquear de sobrancelhas da Miranda”. O poder continua presente, mas disfarçado em gestos suaves, ambíguos, muitas vezes ininteligíveis. A dúvida e o medo que isso gera nos interlocutores é paralisante.


E é aí que emerge o paradoxo: vivemos um tempo em que se fala muito em mudança, mas frequentemente se busca manter tudo como está. A famosa frase do Príncipe de Lampedusa no clássico O Leopardo, de Luchino Visconti, segue atual: “Tudo deve mudar para que tudo continue como está.”


Essa ambiguidade se traduz com força nas contratações de coaches. Busca-se um profissional “alinhado”, que agrade ao CEO, ao time, ao RH. Alguém que não cause atrito, que inspire confiança, mas sem provocar demais. RH, muitas vezes, entra nesse jogo de leitura silenciosa, tentando adivinhar o que o líder deseja, sem perguntar diretamente. O receio de desagradar é grande e, por isso, as decisões são tomadas com base em impressões, afinidades e códigos não ditos. Criam-se rituais como a “sessão de empatia” que, na prática, vira uma sessão de simpatia. O cliente escolhe fazer coaching com quem sente  “afinidade”, muitas vezes aquele que diz o que ele já pensa ou gostaria de ouvir.


Nos trabalhos com times, o desafio é ainda mais profundo. Nessas situações, o comando e controle precisa, de fato, ser colocado em xeque. O CEO se vê em igualdade com o grupo. Aqui, o “arquear de sobrancelhas” não funciona mais. É necessário negociar ao vivo e a cores, renunciar ao controle, escutar o desconfortável.


Para os coaches, esse cenário impõe uma tensão constante: como sustentar a autenticidade profissional num ambiente onde o medo de desagradar é alto, onde tudo precisa parecer leve, alinhado e palatável? Como ser um parceiro de desenvolvimento real sem se tornar mais um na claque?


Como ser um coach profissional sem cair no sincericídio, mas também sem se tornar um seguidor cauteloso?


Essa é, talvez, uma das grandes questões do coaching contemporâneo e um dos entraves mais sutis ao desenvolvimento organizacional verdadeiro.


Coaching é parceria, e parceria exige espaço para a verdade. Também para confrontar padrões repetitivos, fazer as perguntas difíceis, provocar mudança real. Requer coragem do coach, mas também maturidade por parte das lideranças que contratam. É preciso romper com a lógica do “agrado”, e entrar em uma nova cultura de escuta, troca, reflexão e responsabilidade compartilhada.


Enquanto continuarmos contratando profissionais apenas pelo grau de conforto que proporcionam ou por sua capacidade de “entender os sinais sutis do arquear de sobrancelhas”, continuaremos em um ciclo de mudança que só serve para manter tudo exatamente como está. Talvez seja hora de, de fato, mudar. E permitir que o coaching cumpra seu verdadeiro papel: apoiar o desenvolvimento de líderes, times e organizações com coragem, verdade e transformação.


Me chamo Jorge Dornelles de Oliveira e, ao longo de mais de 25 anos dedicados ao coaching, acumulei mais de 7.000 horas ajudando pessoas a se desenvolverem em questões profundas como essa. Se quer explorar novas perspectivas e transformar esse tema em crescimento, meu WhatsApp (11) 97675-3380 está aberto para uma conversa sem compromisso.

 

Jorge Dornelles de Oliveira

Agosto de 2025

 

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