:: Masculino Profundo ::
O que a padronização dos costumes diz sobre o que querem que você seja ao invés daquilo que você realmente quer ser?
A padronização masculina do jeito de ser refere-se às expectativas e normas sociais que definem como os homens devem comportar-se, sentir e se expressar. Essas normas são frequentemente influenciadas por uma série de fatores culturais, históricos e sociais, e podem variar de uma sociedade para outra. No entanto, alguns padrões comuns podem ser observados em muitas culturas ocidentais contemporâneas. Dito isso, é possível notar que esse padrão é algo que começa bem cedo na vida do homem e se repete nos adultos. Desde jovem ele é induzido por essa ‘norma’ que está tanto dentro como ‘fora’. Você já percebeu como o corte de cabelo dos garotos seguem rigorosamente a um padrão? O que isso tem a ver com normatividade de expressão? Quais são os impactos possíveis de observar a partir dessa experiência?
O medo de ser visto como diferente impera na sociedade, molda comportamentos e apaga a individualidade das pessoas. Tenho observado isso de um modo sutil a partir dos cortes de cabelos dos meninos. Há muitos cortes de cabelo degradês por aí. Todos parecem ser iguais. É uma linha de produção de expressão de comportamentos sendo forjada. Basta observar nas ruas, nos metrôs, nos cafés, restaurantes e bares. A esmagadora maioria dos garotos usam os mesmos cortes de cabelo. Há pouca diversificação nesse sentido. De uma forma geral a dificuldade de se individualizar e diferenciar é ainda maior se a gente olhar na periferia. Quanto mais você avança nessas localidades mais fácil percebe que o padrão é reproduzido em massa. Mas isso é moda ou é padronização comportamental?
Você já deixou de ser quem você é para ser o que esperam que você seja?
Homens são frequentemente incentivados a serem fisicamente fortes e emocionalmente resilientes. Mostrar vulnerabilidade ou emoções como tristeza ou medo pode ser desencorajado, enquanto exibir confiança, coragem e capacidade de resolver problemas é valorizado. Esse é o ponto da questão. O modo de ser faz parte do fluxo de padronização que coloca todos os homens no mesmo modus operandi. Sair desse roteiro preestabelecido é algo difícil e poucos se arriscam a viver como realmente gostariam – até mesmo em termos de estilo e aparência. Um corte de cabelo uniformizado pode parecer trivial para a maioria das pessoas, mas no fundo denota simbolicamente a rigidez do padrão cultural que é imposto.
E se todos fossem iguais a você?
Embora seja discutido com menos frequência, a aparência física e o estilo também podem ser padronizados. Desde que a infância, tudo o que simboliza a expressão da masculinidade padrão surge para ajudar a moldar o comportamento do homem no futuro. Espera-se que os homens mantenham um certo nível de aparência e forma física, mas sem parecer excessivamente preocupados com o aspecto do cuidado. Diferenciar-se é muito complexo para o gênero masculino. Existe uma certa imposição que faz com que a vida dos homens seja bem engessada. Buscar a expressão de ser a partir de um jeito que é só seu é visto como diferente, e o diferente nesse caso é diminuído e desprezado pelos demais justamente por estar fora do padrão. Parece uma antítese, mas é somente realidade.
Há uma forte ênfase na independência e na capacidade de cuidar de si mesmo. Espera-se que os homens sejam provedores e protetores de toda a sociedade, assumindo responsabilidades financeiras e de segurança para si e suas famílias. A aderência rígida a essas normas pode ter várias consequências para os homens em algum momento da vida e isso é bastante relativizado. Homens que não se encaixam nos padrões podem sofrer com problemas de identidade e autoestima, sentindo-se inadequados ou excluídos. Além disso, a repressão emocional pode levar a problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e abuso de substâncias. A dificuldade em expressar emoções pode afetar negativamente relacionamentos íntimos, familiares e de trabalho. Em contrapartida, desconstruir a padronização masculina envolve promover uma cultura onde homens se sintam livres para expressar suas emoções, buscar ajuda, e definir sua própria masculinidade sem pressões externas. Isso pode levar a uma sociedade mais saudável e equitativa, onde todos têm a liberdade de ser quem são.
A expressão da individualidade é muito importante desde cedo, mas subvalorizada ainda. Há um crescente reconhecimento da necessidade de desafiar e expandir essas normas de masculinidade. Movimentos nas redes sociais e campanhas de conscientização estão promovendo uma maior aceitação da diversidade de expressões masculinas, incentivando os homens a serem autênticos e a buscarem apoio quando necessário. Por isso, o jeito que a pessoa se expressa é a maneira como ela comunica e manifesta seus pensamentos, sentimentos, personalidade, e identidade ao mundo ao seu redor. Esta expressão pode ocorrer através de diversos meios, incluindo a linguagem verbal e não-verbal, comportamento, estilo de vida, escolhas estéticas e artísticas, e interações sociais.
no vídeo ao lado, a atriz e pesquisadora de gênero Ana Terra questiona nas ruas o que os homens já deixaram de fazer por medo de serem questionados...
créditos: @anaterra.oli
Como encontrar e expressar o seu jeito único de ser sem ter medo do que podem pensar?
O escritor Allan B. Chinen, no livro “Além do Herói: A Jornada do Homem na Segunda Metade da Vida”, relata que na juventude, os homens muitas vezes se concentram em adquirir status, poder e riqueza, seguindo o arquétipo do herói. Ou seja, seguindo todo os padrões. Porém, na segunda metade da vida, eles enfrentam a necessidade de redefinir seus papéis e encontrar novos significados. O ponto de virada surge especialmente com a perda de vitalidade física, a mudança de carreira, e a redefinição de relacionamentos familiares e sociais que abalam os homens. Chinen usa mitos e contos de fadas de várias culturas para mostrar como diferentes sociedades entendem e narram a transformação dos homens à medida que envelhecem. Esses contos servem como metáforas para os desafios e oportunidades que surgem com a idade. O autor enfatiza a importância da jornada interior, onde os homens são chamados a confrontar seus medos, aceitar suas vulnerabilidades e buscar um sentido mais profundo de identidade e propósito.
Quais são as mudanças de padrão, comportamento e significados que você está disposto a enfrentar para se transformar e expressar o seu jeito?
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