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A melhor estratégia está na própria realidade (Transformação Cultural II)

(Mapeando a cadeira do CEO)

O comportamento do líder diz muito sobre a cultura da organização e sobre um possível impacto de uma transformação cultural. Imagine um gestor que é humilde e disposto em reconhecer os próprios erros. E agora considere um outro que aceita desculpas pelo não cumprimento de metas por parte dos seus colaboradores, sendo ele próprio descomprometido. Qual dos dois tem mais potencial de aprendizado e de liderar as mudanças culturais necessárias?

No panorama atual as mudanças ocorrem em pleno movimento, na medida em que os passos estão sendo dados, e é tirando uma fotografia do que acontece no aqui e agora que o processo de transformação cultural poderá ter inicio. Nesse caso, o objetivo é perceber a ‘real’ estratégia, ao invés de avaliar em que estagio se encontra a execução do planejamento estratégico. A diferença é exatamente o movimento, na prática.

O planejamento estratégico não indica o que, de fato, ocorre nos corredores ou bastidores da empresa,– ou seja, a estratégia real deve estar diretamente relacionada ao comportamento, e ainda aos símbolos e sistemas de uma organização, o tripé que representa a cultura organizacional.

Construir uma nova cultura é uma decisão que deve fugir da idealização, principalmente porque, em geral, ela é concebida com base nos valores que nortearam a sua fundação e que vieram sendo cultivados ao longo da sua existência. Não se trata de modificar os valores mas avaliar em que medida eles são suficientes para a mudança desejada.

A cultura é o conjunto de padrões de comportamento que são encorajados ou permitidos ao longo do tempo, o somatório das mensagens recebidas ou interpretadas pelos colaboradores a partir do que testemunham no seu dia a dia. Costuma ganhar uma outra perspectiva, quando eles absorvem o que não é dito e presenciam ou agem conforme uma atuação completamente descolada da missão ou dos propósitos da organização.

Como lembra a especialista em cultura organizacional, a britânica Carolyn Taylor, a ação é a medida do que realmente é valorizado, é o que mostra a defasagem entre o discurso e a prática, e o que faz com que os lideres percam credibilidade caso ajam diferentemente do que apregoam. Assim, a fotografia da real estratégia é que vai mostrar a distância entre o dizer e o fazer, dai a necessidade de considerá-la como base para o trabalho de alinhamento e transformação cultural.

Como você percebe a fotografia real da sua empresa?

Se a organização está desconectada da realidade, será mais difícil saber qual o nível de transformação que ela precisa sofrer para chegar onde quer. Por outro lado, não adianta sair correndo e buscando uma transformação no ritmo do mundo VUCA. A questão é saber o que faz sentido mexer para que o negócio responda da forma necessária e pretendida.

Os símbolos de uma organização também colaboram na elaboração de uma nova cultura visto que eles são usados, segundo Taylor, para validar os valores percebidos. Se a empresa é tradicional e deseja implantar um novo layout aberto do escritório, isso diz muito sobre as mudanças desejadas. Quando esse conceito estava em alta no final dos anos 90, presenciei o caso de uma empresa que realizou essa mudança física, mas as paredes que dividem a cultura organizacional continuam existindo até hoje.

Outro importante símbolo são os hábitos, rituais e “lendas” que indicam de que forma o dinheiro, o tempo e as prioridades são definidos nas estruturas já conhecidas --, empresas mais conservadoras, familiares, mais modernas ou disruptivas.

Quais as lendas e crenças padrões que caracterizam a sua organização?

Existe favorecimento de grupos ou de indivíduos?

E a meritocracia, como é vista?

É comum encontrar heróis e patriarcas?

Como são tratadas as novas ideias?

Qual a linguagem falada pelos colaboradores? E pelo board?

Tudo isso são os sinais que ajudam a perceber qual é a estratégia real.

Os sistemas, por sua vez, a maneira como a organização se comunica, planeja, se avalia ou se estrutura, são um reflexo da definição das prioridades, que influencia ainda a hierarquia de valores e o modo de pensar organizacional. Tudo isso é passível de mudança, caso a fotografia da estratégia real aponte essa necessidade.

Em geral, a fotografia mostra as discrepâncias entre aquilo que se almeja ou o ideal, e a realidade, e o caminho para a transformação precisará responder a algumas perguntas: o que o negócio necessita para se desenvolver de acordo com esse caldo cultural no qual a organização está imersa? E o que deverá mudar indo numa direção diferente, se esse for verdadeiramente o desejo da organização. A partir dai então, será possível fazer o desenho da transformação cultural.

Nem é preciso mencionar que não usaremos nenhum tipo de retoque ou photoshop.


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