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O Masculino e a Anima


imagem cedida pelo Unsplash

É comum a nós homens, na meia-idade, nos enredarmos no visgo da alma (https://www.jorgedornellesdeoliveira.com/single-post/2018/11/29/O-visgo-da-alma) quando somos chamados pela Anima a vivenciar as emoções reprimidas. É comum também estacionarmos naquele local onde nos permitimos sentir a fragilidade inerente a essa fase da vida, mas não sabemos como conduzir o processo de autoconhecimento a partir daí.

O paradigma não é tão simples. Ao invés de questionar os fundamentos da “masculinidade”, nos rendemos àquilo que é considerado senso comum, ou seja, abrimos espaço para o chamado “lado feminino” e tudo o que está associado com as qualidades mais sensíveis, julgando que o mistério será resolvido e que sairemos mais inteiros dessa experiência. Acontece que o chamado não é bem esse.

Por isso, dessa vez faremos um percurso diferente. A convite do Xamã-Malandro, vamos caminhar em direção às profundezas do masculino, na " Saga do Homem em busca do Masculino Profundo", depois de reconhecer e acolher a nossa Anima e de entrar em contato com a Sombra. O masculino profundo, usado pela primeira vez pelo poeta Robert Bly, é aquele momento em que nós nos sentimos fortes para ir ao encontro da totalidade. É uma época na qual podemos ir em direção de nós mesmos, depois que abandonamos os arquétipos cristalizados do herói e do patriarca, e abrimos novos rumos, com o apoio do Xamã-Malandro e de sua sabedoria prática.

Nós homens, principalmente os jovens, somos ensinados a rejeitar a dor, o medo e a carência, pelo fato dessas emoções serem tipicamente femininas. Isso chega a ser um clichê. Mas é certo também que essa repressão segue direto para o nosso inconsciente que, mais cedo, ou mais tarde, dá sinais de que precisa liberar esse conteúdo reprimido. Não raro, essas emoções retornam com força redobrada, na meia-idade, como lembra Jung, fazendo então exigências mais poderosas. E se não estamos alertas ao processo, acabamos por perder uma oportunidade de avançar em nossa trajetória, reconhecendo o que é necessário admitir para seguir adiante. Na prática, somos arrebatados por aquela chorumela que tanto condenamos (e que mais confunde do que ilustra o caminho), quando o desafio é aprender a aceitar e integrar o feminino – à nossa própria maneira-, atravessar sombras, para somente a partir daí, encontrar o masculino profundo.

Como chegar lá? Existe uma forma masculina de expressar as emoções? Um jeito masculino de vivenciar esse arquétipo da Anima que vira e mexe nos provoca sem, no entanto, dar pistas?

Olhar para a Anima sob a perspectiva feminina não é a saída. O fato de a literatura estar repleta de figuras femininas que a simbolizam, tais como a musa inspiradora de Dante Alighieri, Beatriz, em a “Divina Comédia”, leva os homens a associarem os sentimentos e Anima com a figura da mulher, e a rejeitá-los pelo mesmo motivo. Na prática, julgamos que expressar emoções ou entrar em contato com nossa alma, é algo que diz respeito às mulheres.

Alma em latim, a Anima é uma forma arquetípica que personifica a vulnerabilidade e a sensibilidade nos homens, características mais comumente associadas à forma de ser das mulheres, e que povoa o nosso inconsciente, mais frequentemente na meia idade, simbolizando, em geral, esse período pós-heróico.

O próprio Jung, que a conceituou, descreve a Anima e seus estágios com figuras femininas, e relata ter tido experiências com mulheres misteriosas que apareciam em seus sonhos e fantasias – especialmente depois de romper com Freud e perder não apenas o seu mentor, mas o prestigio e a autoridade que tivera com o seu trabalho na juventude. Uma das figuras que surge nessa época é Salomé, uma mulher cega que simbolizava seus impulsos emocionais, eróticos e estéticos, ainda inconscientes e incipientes para ele, conforme destaca Allan Chinen em “Além do Herói – histórias clássicas de homens em busca da alma”.

Mas como então acolher a Anima de um jeito masculino e ao mesmo tempo avançar?

Chinen também lembra que, desde pequenos, nós homens somos apresentados ao Xamã (caçador-Malandro), arquétipo da sabedoria que volta com força total na maturidade para nos orientar no mergulho para um tempo em que poderemos sentir a totalidade de nossas almas. É uma época de muita riqueza interior, povoado de sonhos e reflexões que necessita ser vivenciado em toda a sua plenitude. Mas não há atalhos para o masculino profundo; para chegar até ele é preciso que a gente integre o feminino, reconheça nossas emoções a partir da perspectiva do masculino, e desça ao porão, de um lado menos conhecido, para fazer contato com a Sombra.

O Xamã-Malandro é o guia dessa passagem para o resgate das emoções, é a permissão para vivenciar a Anima por inteiro, sob uma nova perspectiva. Ele é o parceiro que vai nos ajudar a trilhar um outro caminho, individual e também coletivo, nos orientando a partir de uma visão arquetípica tipicamente masculina.

Vamos aceitar o seu convite para deixar de lado as crenças e seguir em sintonia com a nossa natureza, ou seja, com a essência de homens que aprendem a rir de si mesmos quando se tornam mais flexíveis e sábios, sem deixar de ser homens e sem incorrer no risco de fazer essa jornada de um jeito feminino como é esperado pela nossa cultura. A ideia é poder lidar com a nossa própria vulnerabilidade que se revela, ao longo desse percurso, se nos embrenhamos por ele, de fato.

Esse é o chamado da Anima.

E você, como vive suas emoções e sentimentos?

Como você lida com eles?

Você é do tipo que acha que as emoções são só para as mulheres?

Ou estacionou antes mesmo do visgo da alma?

Continue nos acompanhando. Em breve te apresentaremos o portal da ‘Sombra’, na "Saga do Homem em busca do Masculino Profundo".

Antes, porém, reflita.

Quão disposto você está a aceitar esse chamado do Xamã-Malandro?


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