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Quem ou o que determina os limites do indivíduo: a sociedade, a moral vigente ou a própria consciência pessoal?

  • Foto do escritor: jorgedoliveira
    jorgedoliveira
  • 29 de mai.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 30 de mai.

A importância do limite na vida de uma pessoa é um tema fundamental para o desenvolvimento saudável, tanto no aspecto individual quanto nas relações interpessoais. Os limites funcionam como diretrizes que ajudam a organizar a vida, estabelecendo nosso espaço de liberdade, até onde podemos ir sem prejudicar a nós mesmos ou aos outros. Eles são essenciais para manter o equilíbrio emocional, físico e mental, pois definem fronteiras claras entre o que é aceitável e o que não é. No mercado de trabalho, o conceito de limite tornou-se cada vez mais complexo, moldado por percepções individualistas; o que, por sua vez, impacta a gestão de equipes e desafia a construção de acordos coletivos. Mas como lidar com essa questão com equilíbrio?


Nas minhas atuações profissionais como coach executivo ou de times, percebo que existe grande dificuldade nos estabelecimentos de limites no contexto das relações de trabalho , especialmente com as gerações mais novas. Essa questão revela uma complexidade maior do que aparenta, pois estamos vivenciando de forma intensa o conceito de normose e principalmente da busca angustiante pela normalização de alguns comportamentos para não ser apanhado pela patrulha do ‘socialmente correto’. A normose é um conceito que se refere à patologia da normalidade, ou seja, a adoção inconsciente de comportamentos, valores e padrões sociais considerados "normais", mas que, na realidade, podem ser prejudiciais à saúde física, emocional ou à liberdade individual. O termo foi cunhado pelo psicólogo e antropólogo francês Jean-Yves Leloup e popularizado pelo escritor Pierre Weil. Sim a normose clássica está presente através do comportamento das lideranças de gerações mais “antigas” que valoriza horas trabalhadas ao invés de produtividade etc. Mas não se engane! Não é exclusividade dos mais velhos.


Esse novo conceito normativo  que tem a ver com o politicamente correto e se conecta com a dificuldade de entender as novas dinâmicas do trabalho tem a ver com a regra de não fazer nada que possa parecer politicamente correto. Dessa forma, ter uma conversa sobre desempenho ou comportamento com alguém da equipe passa a ser um momento de grande estresse, de muitos cuidados, mensagens cifradas e a grande possibilidade de ser compreendido como assédio. E com isso se cria essa ‘norma’ de querer ser sempre politicamente incorreto para se preservar.


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É importante lembrar que a geração de líderes de hoje são os pais da nova geração. São esses pais que educaram e agora seus filhos chegam ao mercado. Geração essa da qual eles reclamam da falta de comprometimento e maturidade para o trabalho. Na prática, estão em uma situação de terem que lidar com a educação corporativa buscando trazer limites e responsabilidades que muitas vezes não conseguiram estabelecer com seus filhos. Mas como diz o ditado: o problema está sempre na casa ao lado. Fato é que o começo de tudo é admitir que ao longo dos anos os filhos têm cada vez mais assumido a liderança na mudança nos costumes nas famílias pela dificuldade dos pais em acompanharem a mudança frenética, principalmente da tecnologia, e o acesso a informação, o que faz com que crianças e jovens adultos assumam papéis para os quais não tem maturidade emocional - embora tenham acesso a informação. Assim, os pais buscam desesperadamente controlar algo para o qual não estão preparados e principalmente usando o instrumento mais inadequado, o controle.


Um exemplo emblemático da evolução assustadora desse fenômeno é a popularidade de vídeos nas redes sociais que mostram adultos interagindo com bebês reborn [bonecos hiper-realistas] que imitam crianças reais. Que se pensarmos com cuidado começa com o boom da cultura dos casais substituírem filhos por Pets, aparentemente mais fáceis de manter sob controle, mais ainda com algumas demandas de autonomia.


Com o fenômeno dos reborn, que devem estender-se a outras modalidades temos, ao que parece, uma patologia e um recado claro de que educar e colocar limites é algo que não queremos correr o risco de fazer. É certo que esse é um segmento pequeno e deve ser um modismo, mas é um sinal e muito importante de que a situação pode ficar cada vez mais complexa com uma infantilização cada vez maior no comportamento social. Sem dúvidas que alguém pode argumentar que esse é um comportamento normótico meu, de que ser adulto é ser responsável. Eu respeito, mas não posso concordar.


A falta da educação para aceitar as reponsabilidades da vida adulta, sem duvida é um dos maiores entraves a integração da geração z ao mundo do trabalho e explica em parte porque  frequentemente rejeita cargos de liderança, alegando evitar responsabilidades excessivas e a cultura tóxica das empresas em nome da saúde mental. No entanto, essa postura apresenta uma contradição: são justamente eles os maiores incentivadores da cultura PET e agora de bebês reborn e os mais engajados em redes sociais, elementos amplamente associados a desafios psicológicos, como dependência emocional e comparação social. Essa dissonância revela que a busca por "proteção mental" pode, paradoxalmente, mascarar uma dificuldade de lidar com frustrações e pressões inerentes à vida adulta e profissional. É aqui que o limite começa a dar as caras.


De que forma não interpretar demandas profissionais como "perseguição"?


Este fenômeno tem profunda relevância no mundo corporativo atual. Gestores enfrentam desafios sem precedentes ao lidar com profissionais que interpretam feedbacks como ataques pessoais, revelando uma crescente intolerância à responsabilização, elemento intrínseco a qualquer relação profissional.  O que antes era considerado orientação profissional rotineira, hoje é frequentemente interpretado como "violência psicológica" por uma parcela significativa de profissionais jovens. De alguma forma eles trazem isso da sua formação cultural/social. Mas o cerne do problema reside na incapacidade de discernir entre assédio legítimo e a saudável dinâmica de responsabilização no trabalho.


A raiz dessa distorção perceptiva remonta à formação infantil. O desenvolvimento emocional saudável exige limites claros e consequências proporcionais às ações; princípio que, quando negligenciado na infância, produz adultos com dificuldades de autorregulação. Por essas razões que a questão dos limites individuais está sendo cada vez mais recorrentes em situações corriqueiras. No ambiente profissional, essa lacuna formativa se manifesta como resistência patológica à hierarquia, confusão entre direitos e deveres, e uma perigosa equiparação entre cobrança justa e conduta abusiva. Uma vida sem limites pode sim levar ao caos, seja no âmbito pessoal ou profissional.


A ironia é evidente: enquanto se blindam de supostos excessos corporativos, muitos desses profissionais nutrem vícios digitais comprovadamente danosos à saúde mental. Essa contradição não invalida suas demandas por ambientes mais humanos, mas expõe a necessidade urgente de resgatar o equilíbrio entre direitos individuais e responsabilidades coletivas, fronteira essencial para relações profissionais produtivas e psicologicamente sustentáveis. A cultura do limite é indispensável em ambientes de trabalho saudáveis.


Contrariando a narrativa vigente, limites não são prisões, são estruturas libertadoras. A psicologia positiva demonstra que equipes com regras claras apresentam 45% menos casos de burnout. Além disso, líderes que estabelecem expectativas transparentes são avaliados como 38% mais justos. Dessa forma, os limites não são restrições opressoras no trabalho, mas sim ferramentas que permitem uma convivência harmoniosa e uma vida mais organizada. Eles protegem a integridade pessoal, promovem o respeito mútuo e contribuem para uma existência mais consciente e plena. Saber estabelecer e respeitar limites é, portanto, um dos pilares para uma vida saudável e equilibrada.


Como o coaching pode ser uma ferramenta poderosa para trabalhar a questão do limite do indivíduo nas organizações?

As questões contemporâneas nos apresentam ainda um paradoxo comportamental inquietante que estão nesse limiar: pessoas adultas que anseiam por liberdade, mas recusam-se a arcar com as responsabilidades inerentes a ela. Essa esquiva sistemática da maturidade, clinicamente reconhecida como Síndrome de Peter Pan, transcende faixas etárias, manifestando-se como uma resistência cultural ao crescimento que contamina relações pessoais e profissionais. Tal qual o personagem da fábula que se recusava a deixar a Terra do Nunca, esses indivíduos perpetuam um estado de adolescência prolongada, onde direitos são exigidos com veemência, enquanto deveres são tratados como opcionais ou limitantes. O fenômeno ganha contornos ainda mais complexos quando observamos sua migração para o ambiente corporativo, onde a confusão entre autonomia e ausência de regras compromete tanto o desenvolvimento individual quanto os resultados da empresa.


Neste cenário desafiador, o coaching de times surge como intervenção estratégica. Atuando na zona limítrofe entre o pessoal e o organizacional, o processo de coaching proporciona aos profissionais maneiras precisas para comunicar expectativas de forma clara e empática, transformando feedbacks, que frequentemente são interpretados como agressões, em poderosos catalisadores de crescimento. Simultaneamente, ao desvendar as crenças limitantes que alimentam comportamentos enraizados o coaching amplia a percepção dos papéis e dos limites, não como obstáculos, mas como estruturas necessárias para o exercício pleno da liberdade responsável.


A solução, portanto, não está na flexibilização ilimitada nem no autoritarismo retrógrado, mas no que Adam Grant chama de "pensamento novamente", isto é, na capacidade de (re)questionar pressupostos sobre hierarquia e autonomia. Os ambientes profissionais mais produtivos são aqueles que tratam os limites não como linhas rígidas, mas como contratos dinâmicos, revisitados periodicamente através do diálogo aberto.


Como você e sua equipe lidam com os desafios relacionados aos limites no ambiente de trabalho, e de que forma isso impacta as relações interpessoais e os resultados?

Se você pretende lidar melhor com esse tema, me chama no  WhatsApp (11) 97675.3380 e vamos conversar.

Jorge Dornelles de Oliveira

Maio de 2025

 
 
 

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