Como reconhecer uma cultura de alta performance tóxica? Quais são os limites para operar nesse modelo de maneira coerente?
Empresas focadas em resultados confundem desempenho com exaustão. Pressão excessiva, competitividade desleal e disponibilidade contínua tornam o trabalho um campo de batalha. Essa busca pela eficiência negligencia a saúde mental e física das equipes, causando burnout, ansiedade e desmotivação. Pesquisas indicam que ambientes altamente competitivos podem elevar os níveis de estresse de maneira insustentável. A ideia de que apenas os mais fortes sobrevivem pode criar um clima de medo e insegurança, onde os colaboradores se veem obrigados a escolher entre suas vidas pessoais e suas carreiras. Isso não é considerado alta performance, mas sim uma eficiência questionável. Certamente você já ouviu falar ou leu sobre isso, mas às vezes é difícil perceber que estamos vivendo essa situação. Essas circunstâncias ativam nossos comportamentos heroicos, buscando reconhecimento e outros fatores que permitem o fortalecimento dessa cultura tóxica.
Recentemente atendi um cliente em um processo de executive coach. Ele, um executivo de uma grande empresa, enfrentava uma situação tóxica, mas tinha vergonha de admitir estar no limite, pensando "sempre foi assim", "nunca deixei de cumprir uma meta" e "isso vai prejudicar minha carreira". Desenvolveu uma doença autoimune que causava manchas no corpo e que desapareciam quando não estava na empresa. O ápice da situação foi sua hospitalização, momento em que recebeu de sua chefe a seguinte mensagem: “desejo melhoras, mas lembre-se que ainda não alcançamos a meta. Acompanhe os relatórios quando puder”.
Esse evento demonstra como processos não saudáveis podem se estabelecer e perpetuar no meio organizacional. É comum confundir a exigência por alto desempenho com pressão excessiva. Criar uma cultura de alto desempenho necessita de liderança, comunicação e ações consistentes, e não apenas a busca por resultados difíceis de alcançar. A cultura corporativa influencia decisões, o clima organizacional e a motivação dos funcionários. Uma cultura de alta performance adequada valoriza aprendizado contínuo, trabalho em equipe e equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Empresas que incentivam criatividade e experimentação adotam essa abordagem. É importante equilibrar a busca por alta performance com a saúde e o bem-estar dos colaboradores, evitando esgotamento e pressão excessiva.

Como foram suas experiências em organizações que adotam uma cultura de alta performance? Quais pontos positivos e negativos você poderia mencionar?
A cultura de alta performance consiste em um conjunto de valores, comportamentos e crenças que aumentam a produtividade e permitem à empresa alcançar resultados excepcionais. Este conceito ganhou destaque nas últimas décadas do século 20, em resposta à competição global e à busca por eficiência. No entanto, sua implementação requer planejamento cuidadoso, pois, se mal conduzida, pode prejudicar a organização. É fundamental avaliar tanto os aspectos positivos quanto os negativos dessa abordagem.
Como pontos positivos, essa prática pode motivar os colaboradores a oferecerem o seu melhor, buscando constantes melhorias e resultados acima da média. A inovação torna-se um elemento essencial, já que os membros da equipe são incentivados a pensar de forma criativa, assumir riscos calculados e buscar continuamente aprimorar os processos. Adicionalmente, culturas de alta performance geralmente valorizam e recompensam os colaboradores que se destacam, aumentando assim a satisfação no trabalho.
Por outro lado, a constante busca por resultados pode gerar níveis insustentáveis de estresse, ansiedade e até mesmo burnout. A competitividade excessiva pode criar um ambiente onde a concorrência entre colegas se torna prejudicial, comprometendo a colaboração e o trabalho em equipe. Além disso, a exigência contínua por alta performance pode interferir na vida pessoal dos colaboradores, dificultando o equilíbrio entre trabalho e vida privada. Portanto, é crucial estabelecer práticas que promovam tanto a excelência quanto a saúde mental e física.
Como a pressão por resultados a qualquer custo pode destruir a motivação e o engajamento?
Outro grande mito da cultura de alto desemprenho tem a ver como o DNA de inovação da empresa ou de alguma área em específico. Ou seja, o impacto na inovação e colaboração. Mas contrariando o que muitos acreditam, a pressão extrema não impulsiona a inovação. Pelo contrário, cria um ambiente hostil onde os colaboradores evitam riscos por medo de errar e sofrer represálias. A criatividade dá lugar à conformidade e ao medo do fracasso. A colaboração também se dissolve, pois, a competição acirrada entre colegas transforma equipes em grupos fragmentados de indivíduos que priorizam sua própria sobrevivência.
Quando falamos sobre cultura de alta performance, é importante lembrar que a força de trabalho atualmente combina diferentes gerações. De acordo com um estudo da Barclays UK, de 2020, as forças de trabalho no mundo hoje são predominantemente compostas por 35% de Millenials, 35% Geração X, 24% Geração Z e 6% Boomers. A geração Z destaca a necessidade de ambientes saudáveis e práticas corporativas modernas. Este comportamento representa uma mensagem às empresas para atualização. O interesse por propósito, flexibilidade e qualidade de vida é parte relevante para muitos indivíduos dessa geração. Portanto, como identificar se a empresa possui uma cultura de alto desempenho saudável ou não?
Promover um ambiente saudável, priorizar o bem-estar, definir metas realistas e usar feedbacks construtivos são essenciais para motivar equipes. Incentivar a colaboração, oferecer suporte psicológico, garantir segurança no trabalho e gerenciar o estresse são fundamentais. Metas desafiadoras mas alcançáveis evitam frustrações. Feedforward (que ao invés de velho feedback) que promove desenvolvimento sem medo ou punição, é crucial para melhorar o desempenho individual e organizacional, além de construir uma cultura de confiança e transparência.
O senso de responsabilidade individual e coletiva é crucial para culturas de alto desempenho. Os membros da equipe compreendem o impacto de suas contribuições no sucesso da organização. Sem isso, a cultura de alta performance se torna apenas ideologia. Reconhecer e celebrar conquistas reforça o engajamento e motiva a buscar excelência, similar ao que ocorre com equipes esportivas.
Uma cultura de alta performance é construída com a aplicação consistente de princípios. Também é essencial desenvolver estratégias para lidar com crises e incertezas no mundo VUCA: "volatilidade", "incerteza", "complexidade" e "ambiguidade". Mudanças abruptas podem ocorrer a qualquer momento, exigindo um equilíbrio entre resultados imediatos e sustentabilidade a longo prazo. A resiliência é crucial para encorajar os colaboradores a enfrentar desafios com otimismo. Organizações que priorizam clareza, liderança inspiradora, desenvolvimento de pessoas, colaboração, inovação e bem-estar criam ambientes onde os colaboradores prosperam e obtêm resultados excepcionais. Esses fundamentos não só impulsionam o sucesso empresarial, mas também promovem um local de trabalho mais engajado e sustentável.
Como identificar e combater uma cultura tóxica?
Se você trabalha em um ambiente de alta performance, vale refletir: os resultados alcançados são sustentáveis? O bem-estar dos colaboradores é valorizado ou apenas um discurso vazio? Fique atento a alguns sinais claros de uma cultura tóxica:
· Metas irreais: expectativas desproporcionais que ignoram limitações humanas.
· Falta de reconhecimento genuíno: só há cobrança, sem recompensas significativas.
· Competitividade excessiva: rivalidade interna que sabota o trabalho em equipe.
· Jornada de trabalho abusiva: horas extras não remuneradas e expectativa de disponibilidade 24/7.
· Ambiente de medo: colaboradores receosos de errar ou expressar opinião.
E você? Já experimentou uma cultura de alta performance insustentável? Como isso afetou sua carreira e saúde? Para discutir mais ou buscar apoio profissional, entre em contato: jorge.dornelles.oliveira@ggnconsultoria.com.br WhatsApp (11) 97675.3380
Jorge Dornelles de Oliveira
Fevereiro de 2025
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