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Explicar ou Compreender: como diferenciar a linha tênue entre a atuação de Coach e Mentor?

::Reflexões sobre coaching::


Um dos dogmas ou conhecimentos mais difundidos sobre a atuação de um coach é o de que coach faz as perguntas mas não tem as respostas. Outro preceito bastante difundido é de que coach não posiciona sobre um assunto para não conduzir ou influenciar seu cliente. O conceito reforça a ideia de que se posicionar sobre um assunto ou tema; ou falar sobre uma experiência, configuraria mais uma atuação de mentoring ou consultoria; ou treinamento.


Evidente que todos esses dogmas vêm da percepção de pontos isolados da atuação que são generalizados; e permitem que mesmo quem não tenha uma vivência mais profunda possa emitir opiniões que as vezes parecem muito embasadas do que é ou não coaching ou mentoring. Quem atua diretamente com seus clientes sabe que perguntas são fundamentais e que afirmações, em alguns momentos, também são importantes e até trocar experiências é permitido no processo. Mas então o que nos assegura que estamos fazendo coaching e não treinamento, por exemplo?


Lembrando que a tradução literal da palavra coaching para o português é ‘treinador’. Mas isso é tudo o que não queremos que esteja associado à nossa atuação. Sendo assim, de novo surge o questionamento: o que nos garante que estamos de verdade atuando como coaches?


Uma resposta importante vem da forma como cliente está se desenvolvendo ou de como percebemos que o seu processo avança. Além disso, duas pequenas palavras podem ser excelente termômetro para fazer a checagem. E não se trata simplesmente de uma questão de semântica, mas sim do que surge como um movimento interno ou externo ao cliente. As duas palavras, ou melhor, esses dois verbos são: explicar e compreender.

Qual o impacto prático que essas duas diferentes formas processar produzem? Como perceber qual dos dois caminhos seu cliente está seguindo?


Explicar é algo que vem de fora, ou seja, algo que parte de alguém que está explicando para você. Quando você explica algo, está tentando transmitir conhecimento, esclarecer um conceito ou tornar algo mais compreensível para alguém que não esteja familiarizado com o assunto. A explicação envolve dividir um tópico complexo em partes mais simples e compreensíveis, fornecendo exemplos, analogias ou detalhes relevantes para ajudar o ouvinte, no caso o coachee, a entender o significado ou propósito por trás do que está sendo explicado. Em suma, explicar é o processo de comunicar informações de forma que seja fácil entender e assimilar.


Por conseguinte, compreender é algo que resulta do seu processo interno dos seus insights, das suas descobertas, daquilo que vem sendo construído durante o trabalho. Quando o coachee possui compreensão sobre um assunto, não apenas consegue recitar fatos ou detalhes isolados, mas também é capaz de conectar essas informações a um quadro mais amplo, identificar padrões, inferir relações de causa e efeito e aplicar esse conhecimento de maneira prática.


Compreensão, portanto, é a capacidade de entender um assunto, conceito ou situação de maneira profunda e abrangente. É mais do que simplesmente conhecer os fatos básicos; envolve a habilidade de interpretar, relacionar, analisar e contextualizar informações para obter uma visão mais completa do que está sendo considerado. Em essência, a compreensão envolve captar o cerne de um tópico ou situação, bem como entender como ele se encaixa em um contexto mais amplo. Isso frequentemente envolve relacionar informações novas com conhecimentos prévios e tirar conclusões mais amplas com base nessa combinação de informações.


Diante dessa breve análise, parece que fica claro que em um processo de coaching é preciso focar principalmente no processo de compreensão como elemento de realização do trabalho. Isto é, como eu enquanto profissional ajudo o cliente a ter em insights e a fazer suas próprias descobertas (compreender com mais frequência). Assim, dar explicações ou até mesmo trocar experiências não é o caminho que fortalece o processo de compreensão. Sem contar que existe o risco de você ensinar o cliente ao contrário de ajudá-lo a explorar os recursos que ele possui. Analisando desse ponto é muito fácil de entender por que existe o dogma de que coach atua com perguntas.


Um dos papéis fundamentais do coach é ser um profissional que conhece e lida bem com seus vieses, crenças, forma juízo, mas evita o julgamento para ajudar o cliente a explorar seus pensamentos e emoções de forma aberta e honesta. Essa busca de neutralidade imparcialidade permite que você como coach faça perguntas e forneça feedback que ajude o cliente a recuar, ver as coisas de uma perspectiva diferente e identificar possíveis soluções para os desafios que enfrenta. O coach tem como premissa ajudar o cliente a desenvolver suas próprias habilidades de autorreflexão e que ele trabalhe em si o que precisa para resolver seus problemas, em vez de fornecer respostas prontas. Para que isso aconteça são usadas técnicas, que incluem perguntas, que auxiliam o coachee a encontrar suas próprias soluções.


Observe ainda que quando alguém lhe faz uma pergunta o seu impulso é o de buscar uma resposta, ou tentar descobrir algo que está dentro de você. No entanto, quando alguém faz uma afirmação, ou seja, uma explicação, você tende aceitar ou não a partir do seu referencial interno. Quando quem faz a afirmação carrega alguma autoridade – e isso é algo que pode acontecer facilmente na relação de coach e coachee – pode passar despercebido caso o coach não faça supervisão. Desse modo é muito possível não esteja trabalhando bem o processo de compreensão e, por isso, está fora da essência do que é um processo de coaching.


Mesmo em um processo de mentoring é desejável que o resultado seja um processo de compreensão do cliente, ainda que em alguns momentos isso passe por processos de explicação ou de compartilhamento de experiência. Por essa razão, duas palavras aparentemente muito simples como explicar e compreender podem ser extremamente úteis para nos orientar e nos ajudar a sair dessa linha tênue entre coaching e mentoring/consultoria.


Que tipo de processo você trabalha com o cliente para ajudá-lo a encontrar suas próprias soluções? Como você avalia que está atuando como coach e quando transpassa para a atuação de mentoria ou consultoria?


*Esse artigo é inspirado em uma palestra sobre Salutogênese do Dr. Ronaldo Perlatto @ronaldoperlatto, médico e aconselhador biográfico; e coautor junto comigo do programa Masculino Profundo.


Eu escrevi um outro artigo que fala sobre: “Como utilizar as perguntas nas diferentes fases da interação do Processo de Coaching?” Você também pode se inspirar lendo esse texto: https://www.jorgedornellesdeoliveira.com/post/como-utilizar-as-perguntas-nas-diferentes-fases-da-intera%C3%A7%C3%A3o-do-processo-de-coaching


Se deseja saber mais sobre o assunto leia no meu blog outros artigos sobre o tema. Se deseja ter apoio de coach executivo ou team coach para se desenvolver e amadurecer neste tema, entre em contato comigo:


Jorge Dornelles de Oliveira

Agosto de 2023



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