Como desconstruir a Armadilha da Infalibilidade do CEO?
- jorgedoliveira

- há 1 dia
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De que forma a cultura organizacional e o board de diretores criam a expectativa de que o CEO sempre acerta, tornando o fracasso uma falha pessoal inaceitável, e não um risco inerente à inovação?
A cultura corporativa frequentemente eleva o CEO à condição de uma figura mitológica, cujas palavras são tratadas como evangelho e cujas decisões raramente são questionadas. Esse ambiente de veneração gera um perigoso vácuo de feedback honesto. A imagem do "CEO-Pop", inspirada em figuras que revolucionaram a tecnologia, difundiu ainda mais a ideia de um super-herói imbatível e infalível, uma visão que, aparentemente, as organizações internalizaram por completo criando uma persona para o cargo.
A raiz dessa cultura distorcida está na própria seleção do CEO, na busca por um candidato infalível com um histórico especial. A narrativa, interna e externa, o consagra como um salvador, forjando uma persona onisciente e insustentável. Paralelamente, o board, focado em resultados de curto prazo, cria um ambiente onde métricas imediatas ofuscam qualquer discussão séria sobre os riscos de estratégias ousadas ou a naturalidade de tropeços no caminho.
O CEO e a cultura do bode expiatório: quem paga o preço pelos erros da liderança?
Em tempos de crise e incertezas, a resposta mais rápida para acalmar o mercado costuma ser a troca do comando. Esse gesto simbólico envia uma mensagem direta e que se repete: “O fracasso é inaceitável e punido com demissão.” Nesse cenário, o CEO aprende que um erro significativo não é uma oportunidade de aprendizado, mas o ponto final de sua trajetória na empresa. Poucos são capazes de superar essa barreira.

Muitos líderes chegam ao topo impulsionados por uma autoconfiança acima da média e uma sequência de projetos de sucesso que reforça a crença em sua infalibilidade. Esse histórico de vitórias alcançadas pode gerar um viés de otimismo excessivo e uma resistência quase inconsciente em reconhecer que uma aposta pode falhar, o que, paradoxalmente, aumenta as chances de erros estratégicos e decisões precipitadas.
Quando a solidão do cargo escancara a realidade!
O CEO não tem pares dentro da empresa. Ele não pode desabafar suas dúvidas e inseguranças com seus subordinados diretos sem correr o risco de parecer fraco ou indeciso. Essa solidão força-o a manter uma fachada de controle total. O discurso de vulnerabilidade acaba sendo mais uma invencionice corporativa. De modo que a chamada CEO loneliness, ou solidão dos CEOs, é uma realidade enfrentada por muitos executivos.
Mesmo no topo da carreira, o líder frequentemente se vê isolado, incapaz de expor suas inseguranças à diretoria ou ao conselho. No nível estratégico, esse isolamento se torna ainda mais evidente diante das ameaças, dilemas e fragilidades que o CEO precisa administrar.
Essa expectativa de infalibilidade alimenta comportamentos disfuncionais e profundamente prejudiciais ao executivo. Pode surgir uma aversão exagerada ao risco. Isto é, o CEO passa a preferir a segurança medíocre ao risco ousado, por medo de ver sua cabeça rolar caso algo dê errado. Com isso, a inovação é sufocada e a ousadia se torna suspeita.
Outro cenário frequente é a falta de identidade e criatividade do líderOcorre quando decisões ruins não são interrompidas a tempo; assim o executivo continua injetando recursos em iniciativas falidas apenas para provar que sua escolha inicial estava certa e, nesse processo, afunda ainda mais a empresa.Por fim, ecoa a cultura da culpa: se o CEO não pode errar, o fracasso precisa ter outro responsável na organização. A busca por culpados substitui a busca por soluções, corroendo a confiança e o espírito colaborativo dentro da empresa. Sem a possibilidade de falhar rapidamente e aprender, a organização perde a agilidade para se adaptar a mudanças do mercado. A organização se torna ultrapassada, lenta e vulnerável a disrupções.
Aprender com o erro é parte essencial da jornada de descoberta de um líder. Assim como em uma trilha, há sempre um território desconhecido a ser explorado. Nesse percurso, o erro deixa de ter uma conotação negativa e passa a ser um dado valioso, um indício que orienta o próximo passo. Esse processo de experimentação e eliminação é a base do método científico de testar hipóteses, possibilidades. Sem a liberdade para coletar esses dados do fracasso, a inovação se torna um tiro no escuro e fica dependente da sorte, insustentável e impossível de ser replicada.
Quando buscamos entender quais atributos são necessários para ocupar o cargo de CEO, nos deparamos com longas listas padronizadas de competências e requisitos. A expectativa é que, ao reunir a maioria desses itens, o candidato esteja teoricamente apto à função. No entanto, cumprir essa cartilha não garante que, na prática, ele consiga expressar todo o seu potencial. Existem fatores intangíveis e muitas vezes camuflados que fazem a diferença.É justamente aí que se estabelece a linha que separa os CEOs “padrão” daqueles que rompem a bolha: os primeiros limitam-se a gerir, enquanto os segundos transformam a si mesmos, a organização e o ambiente ao redor. Sem medo, esses líderes inspiram, contagiam e provocam movimento, não apenas por suas decisões, mas pela forma como encaram o próprio papel.
Essa cultura de infalibilidade expõe um enorme contrassenso entre quem o executivo é e o que se espera que ele seja. Muitos se perdem no caminho. Um executivo com uma certa dose de ímpeto, por exemplo, precisará se conter e encarar um tipo de Persona que ele desconhece e que não cabe no seu comportamento. Mas como para tudo é preciso oferecer uma resposta e a expectativa é sempre que essas sejam, de certa forma, formatadas no padrão de normalidade, pouco ousadas, o executivo acaba se perdendo.
Trabalhando como Executive Coach há mais de duas décadas, frequentemente observo que muitos C-Levels, ao assumirem a posição, passam por um processo de "pasteurização". A principal frustração que relatam é a incapacidade de gerar o impacto que idealizavam, uma vez que deixam de defender suas próprias ideias e são coagidos a adotar um discurso alinhado à cultura estabelecida, mas que nem sempre reflete suas verdadeiras convicções. Como resultado, é comum que esses executivos, presos aos grilhões da cultura corporativa e temendo rupturas, se mostrem incapazes de articular uma mensagem visionária e mobilizadora para a organização.
Para conduzir essa mudança de perspectiva, o coach executivo emprega questionamentos estratégicos. Essa abordagem visa despersonalizar o fracasso. Paralelamente, o processo de coaching introduz conceitos como "aprendizado validado" e "falha inteligente", fundamentais para demonstrar que, em apostas estratégicas, mesmo um resultado negativo gera insights valiosos, servindo como bússola para a próxima etapa do caminho.
Qual o legado de um líder que realmente marca uma organização? Olhando para a sua própria liderança, qual é a sua assinatura que o distingue?
Com mais de 25 anos de experiência em coaching e mais de 7.000 horas dedicadas ao desenvolvimento humano, meu compromisso é oferecer processos personalizados que potencializam e fortaleçam o desenvolvimento de líderes. Sou Jorge Dornelles de Oliveira e coloco-me à disposição para criar um atendimento sob medida, alinhado às suas necessidades. Entre em contato pelo WhatsApp (11) 97675-3380 e vamos construir juntos uma trajetória verdadeiramente transformadora para você ou sua equipe.
Jorge Dornelles de Oliveira
Novembro de 2025





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