Sabe aquela área que some do seu campo de visão quando você olha pelo retrovisor? Isso é um blindspot. E ele acontece mais vezes do que imaginamos, em coaching. É o momento em que o coach e o seu cliente se deparam com uma zona densa, em que não é possível enxergar, e portanto, torna-se dificil avançar.
Os franceses costumam chamar os blindspots de ângulos da morte, afinal, se quando ao volante você deixa de ver outro veículo se aproximando, isso pode causar grave acidente. A analogia é pertinente: o trabalho de coaching pode ser prejudicado, caso coach e coachee permitam que alguma emoção ou situação não identificada venha a afetar o caminho que escolheram seguir.
Os pontos cegos ocorrem, em geral, quando por algum motivo não conseguimos ou não podemos ver o que está acontecendo com o outro, a partir de uma perspectiva nossa e as razões podem ser as mais diversas. Às vezes algumas pessoas podem se tornar invisíveis para nós por causa desses pontos cegos que elas nos provocam, psicologicamente falando. Em outras ocasiões, estamos tão focados numa questão que o entorno nos escapa, impedindo que a gente se veja no contexto ou perceba se uma frustração ou bloqueio não nos autorizou a olhar para a situação como um todo.
Já te aconteceu de você estar em plena sessão de coaching e de repente algo te acometer, te deixando pesado e com sono? Isso pode ser o sinal de um ponto cego se aproximando!
Quando estamos trabalhando e ele surge, temos que prestar atenção para ver se esse blindspot é nosso ou se por acaso não é do cliente. O primeiro passo é investigarmos aquela sensação de estarmos evitando alguma coisa. O que é? Por que isso está acontecendo nesse momento? Tem alguma coisa da qual não estamos falando?
Sou eu ou o cliente?
Outra pergunta importante é: estou disposto a olhar para alguma coisa que eu desconheço em mim? Estou, de fato, propenso a ajustar o retrovisor para identificar esse ponto cego? Posso fazer isso sozinho ou tenho que convidar o meu cochee nessa jornada?
É preciso considerar que existe uma zona em que profissional e cliente conhecem bem. Estamos falando dessa co-presença gerada por ambos, que é resultado de um bom trabalho em conjunto.
Como coaches, sabemos bastante do modus operandi de nossos clientes. Mas nem sempre eles vêem aquilo que algumas vezes nós sentimos em nosso próprio corpo. E esse é um território delicado.
A pergunta então será: quão vulnerável essa pessoa é ou está com relação à essa questão nesse momento? O quanto ela está disposta a ouvir verdadeiramente? O que devemos revelar e o que devemos manter à parte, sem nominar?
Existe ainda aquela zona quase proibida em que não conseguimos adentrar com nossos clientes. É aquele quadrante que nem o coach nem o cliente conhecem, área onde residem os blindspots conjuntos. Nesse caso, recomenda-se manter a mente muito quieta para que a observação consiga avistar o local que precisa ser explorado pelos dois. E indagar se o fato deste quadrante existir não diz respeito ao relacionamento entre ambos.
Temos também que nos colocar em constante vigilância. Pode ser que o ego não nos deixe demonstrar vulnerabilidade ou sentimento de fraqueza diante de um aspecto nosso, em particular. Nessa situação, o questionamento é: estou pronto a permitir que meu cliente veja esse meu lado mais frágil? Com certeza, isso exige coragem.
E não se apresse em responder negando a sua vulnerabilidade ou reagindo de maneira semelhante: eu só conseguirei acompanhar o meu cliente nessa zona do desconhecido, se de alguma forma eu já tiver ido lá e me permitido conhecer esse ponto cego. Aí, o cenário se configura como um dos melhores. Além de demonstrar ao seu cliente como ele pode iluminar esse blindspot, você terá aprendido a lidar com suas fraquezas e medos, se ainda não o tiver feito.
Afinal, o trabalho de coaching visa fazer com que seus clientes sejam capazes de ampliar suas consciências, reconhecendo em si próprios os seus limites. E na medida em que você também pratica esse reconhecimento, naturalmente enriquecerá sua visão sobre si mesmo, podendo ter um ganho considerável em termos de aprendizado.
Quando os blindspots estiverem por perto, uma forma de quebrar o gelo é admitir que não sabemos do que estamos falando e compartilhar com o outro a nossa ignorância nesse sentido. Brincar ou ter bom humor diante do fato pode nos aproximar do coachee. Abandonar a performance do ego também é um bom caminho. A ideia aqui é ser o mais transparente possível.
Observar o silêncio e o que ele diz também é precioso. Esteja presente naquele momento no qual a linguagem não serve para nada e por isso não precisa ser acionada. Talvez você tenha um palpite anterior à formação dessa linguagem. Perceba seu corpo. Só depois dessa observação plena é que você pode nomear o que está acontecendo com o auxilio do seu coachee. Valem metáforas.
Reconhecer os blindspots é observar as reações aparentemente “descabidas” para uma determinada situação, como a raiva ou a defesa exagerada. Mas não se engane. Não necessariamente estamos falando de coisas negativas. Acontece também de não querermos reconhecer potências em nós mesmos, então cabe investigar porque isso está ocorrendo. E pode ser que estejamos rodeando uma área cega onde, na realidade, se esconde uma pepita de ouro. Como dizia Jung, “ the gold is in the dark” ou o “ ouro está na escuridão”.
Pronto para explorar a escuridão?
Que tal desafiar seus blindspots?