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De que forma influência e poder econômico impulsionaram os avanços da diversidade como conhecemos?

Falar sobre a diversidade está na moda, mas mais do que isso virou uma espécie de obrigação social. O tema diversidade se tornou um rótulo poderoso em todas as esferas da vida. Ele ganhou força nos últimos anos com o incentivo dos programas que preveem a inclusão justa de pessoas que fazem parte desses grupos, por essa razão o assunto está bastante difundido no dia a dia. Está nos anúncios de vagas de trabalho, nas palestras corporativas, na publicidade, nas mídias sociais, na música, no cinema; em praticamente tudo é possível ver alguma abordagem da diversidade. Nesse cenário, existem grupos que estão melhor representados e minorias que pouco se sabe se estão de fato representadas ou se é que um dia serão representadas na mesma parcela. Embora estejamos bem distantes da prática da diversidade como se espera, é bem verdade que aconteceram importantes avanços até o presente momento. Mas não se iluda se você pensa que esses ‘pequenos progressos’ tiveram como impulsionamento a consciência coletiva acerca do assunto. Alguns dos avanços mais significativos tiveram mais a ver com o dinheiro e o poder.


Até que ponto a diversidade se tornou um negócio lucrativo encarado como mais um nicho a ser explorado comercialmente do que como um recurso real e potente com ganhos para toda a sociedade? Como os avanços da diversidade estão relacionados com a força do poder econômico, e como isso fez (e faz) acelerar as conquistas mais significativas nesse assunto? De que forma as minorias menos influentes nesses dois aspectos podem ser impedidas de serem reconhecidas e desfrutarem dos mesmos direitos? O quanto esse processo de progresso social indica como nos organizamos mais rapidamente quando há questões de poder envolvidas?


Quando pensamos na diversidade temos que refletir também como ela está operando de fato. É preciso olhar para o processo histórico de progresso e entender como ele se estabeleceu. Desenvolver esse olhar pode ajudar a ler o cenário real, a nortear e compará-lo com a expectativa de um mundo mais equânime no futuro. Aí é que a coisa se embaraça. Os ideais feministas, por exemplo, foram impulsionados pelas transformações sociais decorrentes da Revolução Industrial (1780) e pelos ideais libertários da Revolução Francesa (1789). Mas no campo dos avanços, o movimento Sufragista foi quem melhor organizou a luta das mulheres. Sua ação pelo direito ao sufrágio (voto) acelerou muitos progressos nesse sentido.


O movimento que tomou a Europa no final do século 19, tinha como integrantes mulheres da elite europeia que exigiam igualdade jurídica no campo da educação e das posses, além do direito ao divórcio e ao voto. As mulheres da classe média requeriam igualdade de oportunidades no treinamento profissional e no mercado de trabalho e as mulheres pobres lutavam pela melhoria de salários e das condições de trabalho. O primeiro grupo, por sua força econômica e influência na sociedade queria ter ainda o direito a usar o seu patrimônio livremente – antes administrado apenas pelos maridos, pais ou irmãos. À medida que as mulheres foram adquirindo seus direitos elas também foram crescendo o desejo pelo poder, naturalmente. Quanto mais as mulheres alcançaram conquistas e quanto mais mulheres notórias e influentes aderiram à causa mais rapidamente os avanços aconteceram. Sem os componentes da influência e do poder o curso poderia ser outro mesmo com a pressão social.

Na perspectiva dos gays e lésbicas, idem. Ambos conquistaram avanços mais rápidos do que outras minorias da diversidade que conhecemos no acrônimo LGBTQIA+. Mas por que isso aconteceu dessa maneira? Nos Estados Unidos e Inglaterra, quanto mais a abertura foi avançando a partir de figuras públicas que se assumiram gays ou lésbicas, os grupos conquistaram mais direitos, mais espaço e mais poder. Mesmo quando figuras muito influentes, gays e lésbicas, não se assumiam com receio da exposição pública à época, colaboravam com recursos financeiros para sustentar o desenvolvimento e a organização de movimentos da sociedade civil que estavam nas ruas pressionando os governos. Isso quando não atuavam para desenrolar questões ligadas às políticas públicas e direitos desses grupos.


Como o foco dessa análise é observar o mecanismo por trás da ascensão das minorias, vou me concentrar em fornecer dados que comprovam essa realidade. O público LGBT tem cada vez mais peso na economia do país. O chamado “pink money” soma cerca de R$ 420 bilhões por ano somente no Brasil, conforme dados da associação internacional de empresas Out Leadership. Além do mais, quando o mercado nota o poder de consumo desse público e entende que ele chega a ser até 30% maior do que a de famílias heterossexuais na mesma faixa etária, por exemplo no campo do turismo, a figura muda. O público brasileiro aparece em segundo lugar em um ranking elaborado pela americana Out Now Consulting, com uma expectativa de gastos com viagens de US$ 22,9 bilhões, atrás apenas dos Estados Unidos.


O quanto os membros da comunidade LGBTQIA+ possuem o mesmo destaque nas atividades de poder no mercado de trabalho? Como a diversidade étnica afro ganhou força em alguns campos nos últimos anos enquanto os indígenas foram quase extintos no Brasil? O que essa contraposição indica sobre diversidade que queremos e a que o mercado sugere?

A diversidade étnica (chamada racial) igualmente passa por esse processo de transformação. Embora não seja uma minoria e sim uma maioria no Brasil, as oportunidades sempre foram inexpressivas para os negros até pouquíssimo tempo. A diferença é que as conquistas dos seus direitos, em geral, vieram após adesão da sociedade para a causa, e ao contrário das outras minorias mencionadas aqui, o poder econômico não foi o principal acelerador. Com mais representatividade na política ao longo de décadas e com algumas mudanças nas políticas públicas como o combate ao racismo e penalização por discriminação, os efeitos já são perceptíveis.


Estudos realizados por pesquisadores americanos e brasileiros mostram que, graças ao início de uma mudança comportamental da sociedade, pessoas negras passaram a ocupar cargos mais qualificados, antes negados apenas pela cor da pele. Nas últimas décadas, o desempenho do Brasil em termos de inclusão social aumentou: no começo dos anos 2000, os brancos representavam 76,8% das pessoas no Ensino Superior, enquanto negros eram 21,9%. Agora, são 55,4% brancos e 43,7% negros segundo dados do IBGE de 2022. Mesmo com os dados do IBGE confirmando que aumentou o número de negros entre os brasileiros mais ricos, de 11,4% para 17,8%, entre 2005 e 20115, no final das contas a inclusão veio mais da força da articulação dos movimentos sociais que tem se organizado de maneira brilhante, especialmente nas mídias sociais, do que do dinheiro em si. Lembremos das manifestações recentes de movimentos como Black Lives Matter.

Como você nota a presença da diversidade representando pessoas trans, bissexuais, intersexo, pansexuais, queer, indígenas, muçulmanos, povos latinos?


As minorias com menor poder de influência na sociedade tanto na conjuntura política como econômica não são lembradas ou representadas como as demais, portanto, estão à margem na própria verificação da diversidade. Fatores como esses impedem-nas de crescer e não só isso, de fluir como uma poderosa e transformadora força. Promover a diversidade apenas pelo “exótico” por si não produz nenhum efeito e tende naturalmente a instigar as diferenças e suscitar atritos. Não temos um número de médicos trans, não temos apresentadores de TV ou de internet indígenas com grande expressão, nós não vemos um ator venezuelano atuar, uma publicidade com alguém bissexual em destaque. O que eu quero dizer é que a diversidade que estamos lidando tem como motivador causas que estão ligadas mais ao business mesmo. Certamente isso dificulta as outras minorias a terem o seu espaço de forma equânime..


De maneira geral, a diversidade tem sido aceita pelas empresas a partir do momento que elas perceberam que isso gera algum retorno financeiro maior. No caso da sociedade, ela passa a vigorar quando existe a pressão social intensa. Ou é o poder ou é a influência que no final das contas aceleraram as conquistas dos grupos. Muitas vezes isso é visto como um nicho e deixam de enxergar o real valor que existe na pluralidade. Algumas empresas, por exemplo, possuem produtos para o público da diversidade e usa esse elemento mais como viés para o seu marketing do que para a sua própria estratégia.


Como podemos aceitar, apoiar e gerenciar a diversidade? De que forma construir um local verdadeiramente diverso, igualitário e inclusivo? O que faz com que a diversidade gere tanto valor para a sociedade?


Quando a diversidade é colocada a benefício ela colabora com grandes resultados em prazos imediatos, médios e longos. Diferentes formas de ser, de atuar e de pensar significam múltiplas formas de encontrar as soluções para um mundo tão plural. Este é o verdadeiro valor que precisa ficar evidente ao pensar na diversidade. É isso o que cria uma cultura de pertencimento, onde todos se sentem valorizados e apreciados independentemente de suas diferenças.


Outra discussão sobre diversidade inclui o que fazer com ela. Quando lidamos com a diversidade não é apenas representatividade que está em jogo, mas também o que fazemos com essa exposição. Por exemplo, se questiona muito sobre o poder das mulheres no mundo, mas atualmente, 16 países e territórios na Europa têm uma mulher como chefe de Governo ou chefe de Estado, excluindo as monarcas. Mesmo sendo um número pequeno na totalidade de países ele existe. Contudo ele é pouco notado e chega a parecer inexistente. O exemplo do número de mulheres no poder pode ser comparado ao que acontece nos cargos de liderança de uma organização. Muitas vezes essas lideranças já existem mas não são notadas pelas próprias mulheres que atuam na empresa. A diversidade por si não transforma nada sozinha, é necessário que exista um trabalho para que os ganhos sejam visíveis. Ganhos que neste caso não são somente monetários. A falta de apoio e o foco no poder são elementos que no terreno da diversidade podem intimidar a própria estrutura.


Como você nota os avanços da diversidade atualmente? Diversidade é um nicho ou uma necessidade do mundo?


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Jorge Dornelles de Oliveira

Junho de 2023

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