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Como a visão socialista da geração z e do jovem sueco conflitam com a visão de legado dos 50+?

Dizia Mário Quintana, poeta e escritor brasileiro: “A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda”.


A Geração Z, caracterizada por ter crescido em um ambiente de alta tecnologia e digitalização, se destacou especialmente durante a pandemia quando usou as redes sociais, ferramenta que dominam desde pouca idade, para reivindicar (e até abrir mão) de trabalhos que eram tóxicos e estressantes. Tudo em busca de um alinhamento que garanta a possibilidade de ter no mesmo lugar qualidade de vida e trabalho andando juntos, meio que o trabalho remoto assegurava.


Em pouco tempo vimos uma explosão de novos youtubers, influenciadores, tiktokers e nômades digitais surgirem nas redes em todo o mundo. Esse estilo de vida passou a ser o objetivo. Não é por acaso que o Brasil, segundo o ranking do próprio Youtube, possui a terceira maior audiência da rede com 142 milhões de usuários / expectadores. Com toda a sua força e influência a Gen Z, como também são conhecidos, agora volta para lançar uma nova tendência no mercado de trabalho: o Lazy Job (trabalho preguiçoso, na tradução). A motivação da vez é poder desfrutar de trabalhos com pouca demanda e que ofereçam uma jornada de atuação mais tranquila. Mas a que preço o regalo dessa geração custa para as gerações anteriores?


Quanto o bem-estar de uma geração mais nova impacta no planejamento do mercado de trabalho para atuar com indivíduos +50? De que forma esse conceito de ‘trabalho fácil’ se sustenta a médio e longo prazo?


Desfrutar de boas condições de trabalho, que inclui considerar o bem-estar do indivíduo, deveria ser uma premissa para qualquer posição em qualquer profissão. Ou seja, no fundo é o que todos merecem ter, ou ao menos gostariam de ter. Isso é inegável. Assim como é inegável dizer que teoria e prática são situações que divergem entre si, e nesse ponto é que a situação se torna insustentável.


O que reforça o meu pensamento de que é insustentável é o fato de pensar que para que uma geração desfrute de um bem-estar maior agora, alguém precisa carregar o piano do dia a dia. Isso nem todo o jovem pensa ou enxerga. Alguns acreditam que o mundo já era assim antes. Portanto, para criar um conceito razoavelmente equilibrado não basta desenvolver uma ideia e pressionar o mercado de trabalho inteiro a se adaptar ao seu jeito de ser e viver. É necessário ter um planejamento consistente para que o impacto não pese sobre alguém – ou sobre todo o mercado. Um bom exemplo é o conceito do ‘jovem socialista sueco’.


Como garantir que as regras sejam cumpridas? O quanto estamos preparados como sociedade para dar continuidade a esse papel indispensável do patriarca e da matriarca? Que responsabilidades as próximas gerações deverão assumir?


A Suécia é frequentemente citada como exemplo de um país com um sistema de bem-estar social abrangente e uma economia de mercado forte e mista. Embora o termo "socialismo" seja frequentemente associado a sistemas em que o Estado controla a maioria dos meios de produção e distribuição, a abordagem sueca é mais caracterizada como uma "economia mista" ou "capitalismo de bem-estar", em que os recursos se voltam fortemente para essa área.


Esse país tem uma economia de mercado onde as empresas privadas desempenham um papel significativo na produção e distribuição de bens e serviços. No entanto, o governo sueco também desempenha um papel importante na regulação econômica e na prestação de serviços públicos. Por essa razão, a Suécia tem um sistema de bem-estar social abrangente que oferece serviços públicos de qualidade, como educação, saúde e assistência social, financiados por meio de impostos elevados.


Assim o mercado de trabalho é regulado de tal forma que as leis trabalhistas protegem os direitos dos trabalhadores e garantem um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal. Isso inclui licenças parentais generosas e horários de trabalho flexíveis. O modelo é tão bem estruturado que só agora, depois de muito tempo, o mercado corporativo brasileiro começa a ensaiar reproduzi-lo por aqui.


Mas ao contrário do invejado conceito do ‘jovem socialista sueco’, é indispensável refletir que o benefício tem um preço a se pagar. Ainda que os suecos possam se dar ao luxo de desfrutar um país com baixos níveis de desigualdade social, distribuição de renda justa e figurar altos índices de desenvolvimento humano (IDH), esse modelo teve como pilar as bases do capitalismo, especialmente o alicerce de uma boa governança que cobra impostos caros e acumula (para depois redistribuir nas áreas que considera essenciais).


O jovem sueco encontrou a sociedade pronta e muito rica. Por essa razão eles acham que tudo veio pronto e não veem problema em socializar tudo. Esse comportamento no entanto esconde um problema. Ele se assemelha bastante ao comportamento de um herdeiro que tem como objetivo único apenas desfrutar de todo um patrimônio. Contudo, sem haver uma gestão desse acúmulo é bem provável que nem ele mesmo termine dispondo de alguma riqueza. É como você receber uma herança e dali por diante somente gastar. Mas há que se fazer algum “sacrifício” para que tudo não seja perdido. Alguém precisa zelar por isso.


Como equalizar os desejos das novas gerações e ao mesmo tempo oferecer oportunidades para os 50+?


De um lado nós temos a Geração Z querendo trabalhos tranquilos e remodelando pensamentos e estilos de vida, do outro lado nós temos a população brasileira envelhecendo. Segundo dados do IBGE de 2023 (já somos 9 milhões de idosos e contando). Nesse cenário entra uma outra discussão que é o etarismo: a discriminação por contratação do mercado de trabalho de pessoas 50+. Mas e quem vai cuidar de tudo isso? Quem vai dar sequência ao que já foi feito? De que forma passar o bastão se ninguém quer assumir as consequências dos problemas complexos que o mundo apresenta?


A geração z está mais disposta a ter um trabalho “light” ou o que é mais legal de fazer. Mas e o trabalho duro, será feito por quem? O mercado de trabalho ainda carrega a falsa ideia de que pessoas acima dos 50 anos não possuem mais o mesmo ritmo de trabalho, por isso as portas se fecham por serem considerados inclusive obsoletos. Em contrapartida há um possível novo modelo que parte de uma geração mais nova que procura trabalhos mais tranquilos e só enxerga suas próprias necessidade em um curto espaço de tempo.


Outro ponto importante a se ressaltar é que gerações intermediárias estão planejando sua aposentadoria de maneira antecipada. Até os 40 anos de idade. Isso já é uma realidade. Daí surge um outro problema: como ajustar essas duas mentalidades? A de pessoas que querem aposentar cedo e / ou não terão mais espaço no mercado de trabalho e a geração que não quer se comprometer com os trabalhos mais complexos. De que forma encontrar lugar para acomodar as diferentes necessidades e sobretudo rever alguns conceitos enraizados? Como estamos lidando com a inversão pirâmide etária?


François La Rochefoucauld, escritor e memorialista francês afirmava: Não há quem apresse mais os outros do que os preguiçosos depois de haverem satisfeito a sua preguiça, a fim de parecerem diligentes”.


Se você acha que o mundo é dos mais jovens, engano seu! O mundo na verdade é das pessoas mais maduras. Mas isso você pode (re)descobrir lendo o meu artigo de 2021: https://www.jorgedornellesdeoliveira.com/post/as-organiza%C3%A7%C3%B5es-est%C3%A3o-excluindo-as-pessoas-50-ou-as-pessoas-50-est%C3%A3o-se-autoexcluindo


Se deseja ter apoio de coach executivo ou team coach para se desenvolver e amadurecer neste tema, entre em contato comigo:



Jorge Dornelles de Oliveira

Agosto de 2023






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