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Como a neutralidade se tornou uma ameaça a singularidade do indivíduo?

A neutralidade pode ser vista como uma forma de garantir a imparcialidade e a transparência em determinadas situações ou passou a ser uma estratégia para evitar conflitos de interesse? Quanto esse comportamento contribui para a criação de uma geração ‘nem-nem’ em questão de atitude e individualidade?


Neutralidade refere-se à condição de não tomar partido ou adotar uma posição parcial em relação a determinada questão, conflito ou situação. Ser neutro significa manter uma postura imparcial, imune a influências externas e sem inclinações favoráveis ou desfavoráveis em relação a um determinado tema. No contexto mais amplo, a neutralidade pode ser aplicada em diversas áreas da vida, como na política, na diplomacia, no jornalismo, em debates éticos e morais, entre outros. Além disso, o tema da neutralidade se estende a gênero e linguagem. Em resumo, a neutralidade é uma postura que visa manter-se indiferente e equidistante em relação a diferentes pontos de vista ou interesses, contribuindo para a promoção da imparcialidade e da objetividade em diversas situações.


Contudo, na psicologia, o indivíduo [ser ímpar, autônomo e distinto de outros seres] é compreendido como um ser único e singular, composto por aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Ele é visto como um todo integrado, com características próprias que se desenvolvem ao longo da vida em interação com o meio ambiente. Mas a neutralidade, embora seja apropriada para compreender e validar experiências que desafiem os modelos tradicionais como é o caso do gênero, pode representar, em outros aspectos, uma armadilha quando praticada como comportamento padrão.  Isso porque a neutralidade tem sido utilizada como um certo “escudo social” e direcionado o mundo para um lugar de falta de diferenciação.


De que forma a postura de neutralidade pode levar à aceitação passiva de situações injustas?


Recentemente um cliente que atendi no processo de coaching executivo relatou que tem adotado postura neutra na organização em diversos aspectos que envolvem a sua individualidade [personalidade]. Ele afirmou que como homem está se “intimidando” na sua forma de expressar e tem receio de ser mal compreendido ou até visto como tóxico no ambiente de trabalho. Em certa ocasião, me confidenciou que deixou de ser convidado a representar sua área em um importante evento internacional significativo para sua carreira [por ser homem] e que aquilo gerou uma sensação bastante complexa de como se posicionar a partir desse episódio. Em contrapartida, você já deve ter ouvido que os homens precisam assumir o [lado feminino], que devem abraçar as emoções e ser menos durões e mais sensíveis. Sim, mas como fazer isso ao nosso modo? É preciso que a gente se fragilize por completo? Ou é possível olhar para dentro, reconhecendo nossa Anima, sem termos que nos submeter a ela ou necessariamente trilhar um caminho feminino de crescimento? É possível sim encontrar novos caminhos, orientados por uma visão arquetípica tipicamente masculina e em sintonia com as trajetórias individuais e coletivas masculinas. Ficar neutro, nesse caso, não vai contribuir em nada para o seu desenvolvimento, compreende? É apenas uma maneira de se defender ou de evitar conflitos, que se torna um comportamento guiado pelo medo.


A neutralidade pode ser sim uma ameaça quando falta posicionamento e atitude. Desde que o presidente estadunidense Donald Trump assumiu a cadeira de mandatário do país, uma série de grandes empresas sinalizou abandonar práticas de ESG (Environmental, Social and Governance). Uma das justificativas – não foi a única, mas uma das – é que o tema ficou esgotado, bipartidário e polarizado. O novo direcionamento se apoia no argumento de que fazer isso é, de certa maneira, comprar uma briga de narrativas e não necessariamente resolve a situação que engloba boas práticas ambientais, sociais e de governança para o mundo.  Até que esse tema ressurja com uma nova roupagem ou com um novo termo criado por marketing, grandes empresas devem ficar neutras a questões tão sensíveis para a sociedade seja isso uma verdade ou apenas oportunismo.


A principal ideia que eu quero compartilhar com você é que essa crescente neutralidade no comportamento, na linguagem, no gênero, parece ser um grande paradoxo. Muitos dos que optam por ficar neutros, querem ao mesmo tempo se destacar. Mas como se destacar sem expressar a sua individualidade? É incoerente. A autenticidade, por sua vez, permite que a pessoa viva de forma alinhada com seus valores e desejos, promovendo maior satisfação pessoal. Encontrar o seu jeito único de ser, possivelmente não se dará por sua postura de neutralidade. Atualmente, o homem branco e hétero é alvo da pressão social e leva o peso de equívocos históricos. Mas quando ele deixa de ser quem é por medo da incompreensão do outro e se torna neutro, na verdade ele está muito mais propenso a ser alguém que está ‘perdido’ do que alguém que aprendeu o seu papel no mundo e que sabe lidar com as suas emoções.  Para se resgatar esse arquétipo que é capaz de reconhecer sua força, mas também admitir sua fragilidade, é necessário percorrer um caminho que leva os homens a explorarem as suas vivências com o feminino (com o seu feminino interno), e a partir de uma perspectiva masculina que também lida com as suas sombras, isto é, com aquilo que não foi explorado ainda. Quando isso não acontece, só se contribui para uma geração ‘nem-nem’. Nem se posiciona e nem se apropria da sua individualidade para se desenvolver.


Como a hesitação em expressar preferências ou pontos de vista pode retardar ou complicar o processo de desenvolvimento?

 

Ao invés de se isentar ou deixar de se expressar, é mais interessante que a partir dessa consciência que resgate as qualidades de flexibilidade e desenvolva uma percepção melhor do seu papel masculino maduro, capaz de conviver com todas as pessoas e grupos de igual para igual sem parecer uma criança fragilizada ou um patriarca cheio de rigidez que não sabe lidar com suas emoções ou se constrange ao manifestá-las publicamente. Quando nem o papel de herói e nem o papel de patriarca cabe mais no seu contexto é necessário se questionar que outros caminhos são possíveis para você. A individualidade motiva a busca por autoconhecimento e o desenvolvimento de habilidades únicas.


Embora eu tenha trazido o exemplo do homem “hetero top”, isso também vale para a mulher branca cisgênero. Talvez ela seja a próxima bola da vez e passe a carregar a pressão social apenas por ser quem é. Ou seja, eu quero reforçar que atribuir a responsabilidade por todos os problemas do mundo a um único grupo, como os [homens brancos ou mulheres brancas, por exemplo], simplifica de forma excessiva a complexidade histórica, social, econômica e cultural das dinâmicas humanas. A história do mundo é composta por eventos que envolvem a interação de diversas forças e atores, e o papel de qualquer grupo deve ser analisado em contextos específicos e com nuances.


Por essa razão, a psicologia reforça que é importante considerar que a neutralidade nem sempre é a melhor abordagem em questões comportamentais e emocionais. Muitas vezes, as emoções desempenham um papel fundamental na resolução de conflitos e na promoção do entendimento mútuo. Do ponto de vista psicológico, a capacidade de se colocar no lugar do outro [ter empatia] e compreender diferentes pontos de vista, de diferentes atores sociais, cada qual com a sua especificidade, pode ser mais eficaz do que simplesmente adotar uma postura neutra. A neutralidade absoluta pode ser interpretada como indiferença ou falta de envolvimento emocional, o que nem sempre é construtivo em situações de conflito que produz seres humanos medíocres e com pouco interesse real para se conviver e aprender.

 

“O único homem que está isento de erros, é aquele que não arrisca acertar”.

Albert Einstein

 

Você já deixou de falar o que pensa ou de ser autêntico no seu comportamento com receio de ser julgado por alguém? De que forma isso tem influenciado o seu comportamento no dia a dia?


Se deseja ter apoio de Coach profissional ou supervisão para se desenvolver e amadurecer neste tema, entre em contato: jorge.dornelles.oliveira@ggnconsultoria.com.br Whats app (11) 97675.3380 

 

Jorge Dornelles de Oliveira

Janeiro de 2025

 

 

 

 

 
 
 

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