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Salutogênese:

Como o processo de coaching promove a mobilização de recursos e saúde nos indivíduos e consequentemente nas organizações?


O que faz com que as pessoas se mantenham saudáveis no ambiente de trabalho mesmo diante das situações estressantes do cotidiano? Como o local de trabalho contribui para moldar o senso de coerência (equilíbrio) do seu colaborador? Qual a parcela de responsabilidade das organizações nas circunstâncias em que funcionários manifestam quadros de depressão, transtornos ansiosos, síndrome do pânico, transtorno afetivo bipolar, transtorno de estresse pós-traumático, síndrome de burnout?


A partir de uma reflexão sobre o conceito de salutogênese, que foca no processo de saúde e na compreensão de como podemos nos manter sadios mesmo diante de cenários de estresse, apresento nesse artigo uma série de considerações que, se forem consideradas durante o processo de coaching, podem fazer com que o cliente adquira um sentido integral e coerente do seu comportamento, e posteriormente o leve a atingir um nível de congruência – alinhando sua forma de pensar, sentir e agir. Em outras palavras, é justamente essa compreensão que pode auxiliar o cliente na superação das dificuldades e possibilitar melhorias na saúde do indivíduo, e de forma secundária, afetar positivamente o contexto da organização.


De que forma você administra a tensão que acontece no trabalho? Como desenvolver habilidades de enfrentamento do estresse e criar estratégias que contribuam para promoção da saúde?


Aaron Antonovsky*, sociólogo israelense-americano, desenvolveu na década de 1970 um estudo sobre a teoria da saúde e da doença, a qual chamou de salutogênese. Sua teoria se baseia em entender as origens dos fatores que sustentam a saúde e o bem-estar humanos, não o contrário (a patogênese), que aponta os fatores que causam doenças. De maneira sucinta, esse estudo oferece para o nosso campo de atuação, o coaching, três componentes importantes de análise: comprehensibility, manageability and meaningfulness, ou, compreensão, maleabilidade e significância.



A capacidade de compreensão resume a maneira como o indivíduo apreende os estímulos intrínsecos ou extrínsecos como informação ordenada, consistente, clara e estruturada, que formam a capacidade de compreensão pessoal. A capacidade de maleabilidade (ou de gestão) é a percepção que o indivíduo desenvolve dos recursos pessoais ou sociais que estão ao seu alcance para satisfazer as exigências requeridas pela situação de estímulo. Quanto mais alto o sentido de gestão do indivíduo, menos ele se sente atingido negativamente pelos acontecimentos, e, menos considera a vida como adversa. Por fim, a capacidade de significância se refere a capacidade de sentido que a pessoa retira dos acontecimentos da vida. Sendo assim, encontra razão para neles investir a sua energia e interesse. Não se trata de encontrar satisfação em tudo o que acontece na vida, mas de investir recursos para superar as situações com dignidade.


Antonovisky identificou essas características, que ele alegou que ajudam uma pessoa a lidar melhor (e permanecer saudável), fornecendo a essa pessoa um "senso de coerência" sobre a vida e seus desafios. Isso nada mais é do que pensar, sentir e agir. Quando esses três aspectos do individuo estão alinhados acontece o que chamamos de congruência (que pode ser entendida também como harmonia). congruência está relacionada à autenticidade ao Ser. Também pode ser descrita como a coerência entre as ações, os pensamentos, as emoções e as palavras. Ver o mundo como compreensível, manejável e com significado facilita a seleção de recursos e comportamentos eficazes e culturalmente apropriados para o enfrentamento das situações complexas. Para efeito de comparação, quando a pandemia de Covid-19 se alastrou e veio o isolamento e o trabalho remoto, que até então não havia regulação dentro da lei, percebemos uma situação que gerou muito estresse para a grande maioria das pessoas. No entanto, para um outro grupo de pessoas essa situação, ao contrário, gerou satisfação. Se há causadores de doença, também há causadores (ou promotores) de saúde.


No contexto dos processos de coaching isso é percebido ainda por meio de uma outra teoria. De acordo com o olhar de Carl Rogers, psicólogo americano, a questão passa pelo ponto da congruência. Nessa abordagem se reflete a capacidade de descobrir maneiras de encontrar a realidade de modo integral. A pessoa que está em congruência com o seu ser é genuína e não tem razões para disfarçar sentimentos perante situações ou outros indivíduos. Ela pratica a autoaceitação e o amor-próprio diariamente, mesmo quando se depara com seus defeitos e falhas. Esses elementos também o colocam sob outra perspectiva no enfrentamento das situações indesejadas ou adversas. Rogers afirma que em cada indivíduo existe uma tendência atualizadora, uma tendência inerente ao organismo para atualizar suas potencialidades numa direção positiva e construtiva.


Como o processo de coaching e suas atitudes como profissional podem inspirar o cliente a agir de maneira coerente?

Por meio dessas conversas com o cliente estamos expondo o nosso comportamento e consequentemente a nossa forma de lidar com o mundo. Mas esse processo acontece de modo contrário também, isto é, do cliente para nós. Quando nós Coaches através da nossa presença na sessão somos congruentes e atuamos com coerência, somos um espelho para o nosso cliente e isso os convida automática a se colocar nesse estado. Nessa fase do processo e vivenciado algo semelhante ao que ocorre na teoria dos neurônios-espelhos.


Segundo essa teoria da neurociência descoberta na última década, um neurônio, célula responsável por transmitir impulsos ao cérebro, pode se comportar por imitação e desenvolver um aprendizado por meio da reprodução de uma ação. Isso indica que assim como afirmou Antonovisky, o individuo e capaz de moldar seu senso de coerência e criar estratégias para desenvolver habilidades para enfrentar o estresse e para promover a saúde em alguma proporção. Isso vale para uma pessoa, mas levando em consideração que essa pessoa pode usar a sua influência com seus pares na organização, não é exagero afirmar que a transformação pode reverberar no clima da organização.


Então como já sabemos coaching não é terapia, mas é terapêutico para ambas as partes, o que estou querendo ressaltar é que o processo de coaching também pode trazer elementos saúde, na visão do Antonovisky, desde que você como Coach desenvolva esse tipo de presença.


Que estratégias você realiza para levar uma vida mais produtiva e menos estressante? Como a organização que você atua trabalha para enfrentar as adversidades que acontecem de modo frequente? O quanto agora você enxerga o processo de coaching como salutogênico?


Se deseja ter apoio de coach profissional ou supervisão para se desenvolver e amadurecer neste tema, entre em contato: jorge.dornelles.oliveira@ggnconsultoria.com.br Whats app (11) 96396.9951


*Aaron Antonovsky, Health, Stress and Coping, (Lidando com a Saúde e o Estresse), 1979.

Jorge Dornelles de Oliveira

Março de 2023





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