:: Executive Coaching::
Como o coaching se desenvolveu a partir das tendencias da psicologia e das mudanças do mundo e influenciou o meio executivo nas últimas três décadas?
De que forma as teorias da psicologia e as demandas da sociedade influenciaram na orientação do coaching ao longo do tempo? Como o avanço do coaching tornou o processo um instrumento de aperfeiçoamento indispensável como ferramenta para desenvolver potenciais de líderes nas organizações?
Aparentemente essas questões estão todas embaralhadas e nem sempre fica evidente de que forma isso influenciou o trabalho de um executive coach. Mas um olhar mais apurado demonstra que a formação de um coach, a metodologia do trabalho e sobretudo a influência dos fatores externos relativos a cada época se fundem cada vez mais e incidem na sua atuação.
Você vislumbra o coaching como um conjunto de habilidades essenciais para o desenvolvimento de pessoas?
Explicar sobre esse funcionamento e elucidar como isso acontece em pleno movimento será o meu objetivo neste artigo. Além de estimular a reflexão, pretendo ainda citar algumas das principais influências teóricas ao longo do texto e tentarei separar ‘o joio do trigo’. Ou seja, mostrar que não se deve reduzir o processo de coaching executivo a um recurso simplista, quase mágico, e meramente positivista para resolver problemas complexos enfrentados na realidade do mundo organizacional. Meu intuito final também é contra-argumentar com aqueles que atribuem ao coaching tudo aquilo que ele não é e não deveria ser.
Ficou curioso para conhecer os meus argumentos? Então prossiga nessa leitura!
Inicialmente eu destaco que coaching não é consultoria, não é precisamente mentoring e tão pouco se trata de uma terapia. O coaching, todavia, é um aprendizado que se interrelaciona com determinados conceitos da psicologia e das teorias de desenvolvimento organizacional e de lideranças e se beneficia desses conhecimentos para, de forma prática, aprimorar e desenvolver o desempenho dos indivíduos com foco na ação. Em suma, trabalhar a partir das fortalezas interiores e sem a intenção de tratar ou de consertar quaisquer disfunções apresentadas pelo indivíduo como propunham as teorias clássicas que trabalhavam mais focadas na patologia.
O olhar para o self e o reconhecimento de seus mecanismos internos, embora seja conhecido há milhares de anos pelas correntes esotéricas, começa a ser notado de forma cientifica por Josef Breuer, médico e fisiologista austríaco, cujas obras lançaram as bases da psicanálise no final do século XIX. Breuer, em Viena, lança o foco na busca da cura para as situações patológicas
Após romper os laços com Breuer, Sigmund Freud deu prosseguimento em seus estudos científicos e revolucionou com suas teorias. Em seguida, Carl Gustav Jung, propôs um processo de olhar para o individuo de forma mais integral e incluiu gradualmente observar o que tem a ver mais com a saúde ou com o que é funcional e está menos vinculado nas patologias. Posteriormente ocorreram novas evoluções no processo que foram acentuadas por Abraham Maslow e Carl Rogers, respectivamente. A partir Rogers, o procedimento começa a mudar o foco do terapeuta, ou seja, dos médicos; e caminha na direção da relação cliente /médico.
Assim se amplificou a aliança terapêutica e a autonomia do cliente no processo, lidando com o indivíduo funcional e não focado somente no disfuncional e patológico. Significa que esse método caminha cada vez mais para descortinar o potencial do cliente, isto é, trabalhar os aspectos positivos que para além das fronteiras da psicologia se evidenciam nas teorias de desenvolvimento de mestres como Peter Drucker economista, escritor e que defendia que os executivos devem trabalhar mais as competências que eles estão preparados ao invés de enfocar nas que estão aquém do esperado. Pois bem, é exatamente nessa linha de percepção que atua o coach: descobrindo quais são as suas forças e qual deve ser a sua contribuição.
De que forma você acredita que é melhor investir no seu desenvolvimento: imerso nas suas fraquezas ou aprimorando as suas competências?
O ponto alto desse enredo onde as teorias da psicologia são usadas no processo de coaching ocorreu com Martin Seligman, psicólogo americano e outra referência para a área do executive coaching que desenvolveu o movimento chamado de Psicologia Positiva. O autor revela que o bem-estar pode ser mensurado em cinco fatores: emoção positiva, engajamento, sentido, relacionamentos positivos e realização. Seligman conceitua que o objetivo é ampliar o desenvolvimento pelo aumento da emoção positiva, do engajamento, do sentido, dos relacionamentos positivos e da realização.
De modo semelhante, Mihaly Csikszentmihalyi, psicólogo húngaro, autor da Teoria do Flow também fortaleceu essa conexão ao desenvolver o conceito que busca compreender o que um indivíduo precisa para atingir um estado pleno de concentração e motivação e como isso pode trazer inúmeros benefícios em seu avanço. Sua teoria afirma que esse estado é caracterizado por alta motivação, alta concentração, alta energia e alto desempenho, por isso também é chamado de experiência máxima ou experiência ótima.
De que forma você enfrenta os conflitos que o mundo apresenta para você?
Esse caminho que se trama é como uma espécie de reação ao contexto social ao longo do século de desesperança no coletivo e por oposição um olhar positivo para o interior do individuo. Se pensarmos em coaching e terapia atualmente, a terapia pode e trabalha com a patologia, mas pode haver uma abordagem positiva para apoiar a mudança. Todavia, o coaching não trabalha a patologia (nem tem formação para isto), então em muitos casos existe o risco de aparecer um certo positivismo que ignora os aspectos da dor ou mesmo os gaps que o cliente gostaria de trabalhar. Por considerar de forma errônea que isto flerta com a terapia, o grande terror dos coaches é entrar neste rumo. Porém, é importante reconhecer que a dor existe e os aspectos “ditos negativos” também existem e precisam ser abordados quando o tema do cliente pede que seja. Além disso, vivemos em uma sociedade que nega o sofrimento, a ansiedade e a dor. Note o altíssimo número de jovens que tomam todos os tipos de remédios para afastarem o contato com essa realidade. Ou mesmo notem o paraíso que se reflete nas redes sociais.
Mas, afinal de contas, como se caracteriza o processo de coaching?
Coaching é uma parceria uma parceria com o cliente em um processo estimulante e criativo que o inspira a maximizar seu potencial pessoal e profissional. De modo que cabe ao coach profissional saber dosar quais recursos (teorias) podem ajudar o cliente a deslanchar no seu progresso. É imprescindível saber lidar com o potencial do cliente, mas sem entrar na dinâmica do positivismo toxico que nega a realidade, indicando a todo o tempo a existência de que a realidade é dual - não existe positivo sem negativo. Não existe o bem sem mal. Com esses parâmetros é possível ajudar o cliente a reconhecer quando se está vivendo em uma dessas polaridades (que é muito comum em grande parte das discussões atuais e que parece limitar tudo há duas possibilidades) e desafiá-lo a se flexibilizar e a experimentar viver outras possibilidades. É isso sem dúvida alguma que diferencia entre avançar e estagnar no próprio caminho do desenvolvimento.
O coaching estimula o cliente a agir e a atuar no mundo real, por isso, inevitavelmente quando ele coloca em prática esse aprendizado ele se defronta com todas as suas problemáticas e isso é um ótimo material para ele se auto lapidar.
Em outras palavras, é exatamente nesse lugar que o coach se fortalece e aplica os conceitos das teorias da psicologia para apoiar e desenvolver indivíduos.
O cliente deve ser desafiado a caminhar na direção que ele almeja do modo mais realista possível e de acordo com o que ele pode realizar no momento. Passo a passo ele constrói sua jornada. O contexto do mundo influência o coaching e o coaching influencia o mundo justamente por sua atuação e relevância no contexto corporativo e da sociedade.
Se deseja ter apoio profissional ou supervisão para se desenvolver neste tema, entre em contato: jorge.dornelles.oliveira@ggnconsultoria.com.br ou (11) 96396.9951
Jorge Dornelles de Oliveira
Dezembro de 2021
Leia outros artigos relacionados:
A atuação do coach como um enciclopedista do conhecimento
Comments