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Como a invasão ao Capitólio e o ataque aos Três Poderes explicam sobre o contexto das Organizações?

De que forma você recebe e processa informações contraditórias? Por que lidar com elas de forma intensa pode gerar um acentuado desgaste mental?


A partir do início da década de 2020, todos nós, em maior ou menor grau, experimentamos a dissonância cognitiva, ou seja, um certo estado de desgaste ou desequilíbrio mental causado pela percepção de informações divergentes. Especialmente devido a pandemia, disrupções maciças e mudanças rápidas desencadearam essa eventualidade de um modo jamais registrado na história. A enorme quantidade de perturbações e mudanças aceleradas produziram um forte deslocamento psicológico, social, cultural e econômico. A consequência foi o surgimento do sentimento de desorientação pessoal, individual e coletiva.


Nesse mesmo período, foi notável o crescimento da polarização ou a radicalização das opiniões. O fenômeno da dissonância cognitiva foi constatado mundialmente. Mas alguns episódios sociais ficaram marcados no clímax da desconexão. No auge da pandemia de Covid-19, quantas pessoas se sentiram perdidas em meio a tantas notícias falsas sobre a doença e a vacina? A produção de fake news, distribuição de boatos, foi tão intensa e ao mesmo tempo produzida com tanta riqueza de detalhes (fontes, citações de especialistas e fotos) que muitas pessoas tiveram dificuldade para discernir e processar o que era real ou falso. De um lado estava a ciência, do outro os chamados negacionistas. O assunto deu margem para uma série de teorias da conspiração.


Leon Festinger, psicólogo americano, autor do desenvolvimento da Teoria da Dissonância Cognitiva, em seu livro, “A Theory of Cognitive Dissonance”, publicado em 1957, afirma que os seres humanos precisam de consistência cognitiva interna para funcionar mentalmente no mundo. Por isso, lidar com as nuances de ideias ou experiências contraditórias é mentalmente estressante. O autor destaca que é preciso energia e esforço para avaliar essas coisas aparentemente opostas que parecem verdadeiras. Quando isso não acontece existe uma tendência de as pessoas acreditarem cegamente naquilo que elas querem acreditar.


Embora não seja uma novidade que um contexto coletivo tenha influenciado em na dissonância cognitiva em massa, afinal, isso aconteceu ativamente em outros três momentos históricos como na invenção da Bíblia de Gutenberg, na Revolução Industrial e com as Grandes Invenções Modernas, valem ressaltar que em nenhuma das ocasiões antecedentes a quantidade de informações foi tão grande em um período tão curto de tempo. Apenas esse dado é suficiente para entender o tamanho da questão que estamos examinando.

Quais são os seus critérios para lidar com as informações discordantes quando trata de um assunto complexo que você não domina ou desconhece?


Em janeiro de 2021, os Estados Unidos enfrentaram uma das situações mais inesperadas da sua história. Manifestantes extremistas, apoiadores do então presidente Donald Trump, invadiram o capitólio, prédio que sedia o centro legislativo americano, alegando fraude nas eleições presidenciais de 2020. Por trás da condução das invasões estavam grupos como os QAnon e Proud Boys, reconhecidos grupos conspiradores. De maneira semelhante, em 8 de janeiro de 2023, o Brasil passou pela idêntica experiência quando extremistas tomaram a Praça dos Três Poderes em Brasília e invadiram as dependências do STF, Congresso e Palácio do Planalto. A motivação principal foi a suposta fraude nas eleições presidenciais brasileira de 2022.


Compreender esses acontecimentos históricos e analisar o que motivou os indivíduos a tomarem tais atitudes são pontos importantes antes de estreitar o tema até a realidade corporativa. De acordo com a teoria, o conceito de dissonância cognitiva remete à necessidade, do indivíduo, de procurar coerência entre suas cognições (conhecimento, opiniões ou crenças). Mas a dissonância ocorre quando existe uma incoerência entre as atitudes ou comportamentos que acredita serem certos e o que realmente é praticado. Em síntese, a dissonância cognitiva é uma produção cognitiva e emocional, que resulta em um estado de desconforto, angústia ou ansiedade causada quando há inconsistência entre as cognições. Uma vez que a dissonância cognitiva é disparada, o indivíduo irá acionar mecanismos psicológicos diversos para reduzir ou eliminar a dissonância.


Como manter a sensatez quando a organização atua de forma contraditória? O que fazer quando as informações chegam de forma conflitantes?


Quando a cultura empresa não condiz com os valores e crenças do indivíduo ocorre a dissonância e o relacionamento entre as partes pode ser prejudicado ou rompido se esta não for eliminada. Sendo assim a escolha de uma organização para se trabalhar vai muito além de aspectos financeiros. O ideal é que seja feita uma análise sobre quais são os valores da empresa para verificar se são consonantes com os do indivíduo que pretende fazer parte daquela organização. Ao lidar com um time de trabalho, por exemplo, você tem muitas perspectivas, ou seja, muitos pontos de vista diferentes e isso é extremamente saudável. Quando os pontos de vista começam a polarizar, cristalizar e paralisar a dinâmica de trabalho, temos com certeza um sinal de que a contradição existe e está progredindo para uma forma cada vez mais danosa. Mas não se engane, pois a neutralidade ou apatia também podem indicar ser um sinal de alerta.


Quando li nos noticiários a respeito do caso da varejista Americanas, que recém expos a existência de dívidas na casa dos R$ 40 bilhões, me veio a mente um bom exemplo para mencionar. O modo como as informações sobre o futuro da organização chegou até os colaboradores, os times, faz toda a diferença. Seguramente a grande maioria dos 44 mil funcionários tomou conhecimento da situação pela imprensa, não pela declaração da própria organização. A dissonância cognitiva está na raiz de toda a desinformação. A incerteza quanto à sustentabilidade financeira, a possibilidade de decretar falência ou fechamento das lojas pode causar em grande parte dos membros da empresa uma situação que culmine em dissonância cognitiva. Não há como esconder, pois chega um momento que fica difícil de discernir. Viver esse fenômeno em que você tem muitas informações contraditórias e precisa processar isso o tempo inteiro estando consciente e tomando decisões é muito difícil. É o que eu chamo de viver no Mundo V.U.C.A.


Por fim, outro contexto em que pode haver dissonância cognitiva mas está mais ligado ao funcionamento do indivíduo está relacionado a utilização das tecnologias. O fato de não haver domínio ou entendimento suficiente para o uso de determinada tecnologia tende a gerar confusão, sentimento de incompetência e críticas. O passo seguinte exteriorizar isso por meio da revolta ou da negação a respeito desse recurso. Uma ilustração clássica de dissonância cognitiva que ajuda a comparar a situação é expressa na fábula "A Raposa e as Uvas" de Esopo (620-564 A.C.). Na história, uma raposa nota algumas uvas e quer comê-las. Quando a raposa é incapaz de pensar em uma maneira de alcançá-las, decide que não vale a pena comer, com a justificativa de que as uvas, provavelmente, não estão maduras ou que são azedas. A moral que acompanha a história é que qualquer tolo pode desprezar o que ele não pode ter.


Orientações para refletir:


Quando ocorre uma dissonância o indivíduo entra em um conflito íntimo e esforça-se para estabelecer um estado de consonância ou consistência consigo e o ambiente em que está inserido. Para tentar diminuir ou eliminar a dissonância existem três formas: A teoria da dissonância cognitiva afirma que cognições contraditórias entre si servem como estímulos para que a mente obtenha ou produza novos pensamentos ou crenças, ou modifique crenças pré-existentes, de forma a reduzir a quantidade de dissonância (conflito) entre as cognições. Quanto mais enraizada nos comportamentos do indivíduo uma crença estiver geralmente mais forte será a reação de negar crenças opostas.


3 formas de eliminar a dissonância:


Relação dissonante: o indivíduo tenta substituir uma ou mais crenças, opiniões ou comportamentos que estejam envolvidos na dissonância.


Relação consonante: o indivíduo tenta adquirir novas informações ou crenças que irão aumentar a consonância.


Relação irrelevante: o indivíduo tenta esquecer ou reduzir a importância daquelas cognições que mantêm a situação de dissonância.


De que forma você atua para diminuir a dissonância cognitiva? O quanto você está atento as falsas percepções que existem no ambiente corporativo em que você está inserido?


Se deseja ter apoio de coach profissional para se desenvolver e amadurecer em relação ao assunto, entre em contato: jorge.dornelles.oliveira@ggnconsultoria.com.br Whats app (11) 96396.9951


*A Theory of Cognitive Dissonance, Leon Festing, 1957

** Evolution Shift, David Haule, 2023


Jorge Dornelles de Oliveira

Janeiro de 2023

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