No meu papel de Coach de Executivos trabalho com profissionais que pretendem desenvolver habilidades ou competências para assumir ou desenvolver-se nas cadeiras mais cobiçadas da organização, as chamadas posição de C-level e em especial de CEO. A posição almejada, no entanto, traz consigo uma responsabilidade implícita muito maior do que se imagina e, nesse aspecto, pode tanto ajudar a carreira do executivo a avançar quanto a paralisar. Isso porque além de responder pela sua imagem, ele também representa a imagem e a cultura da empresa. O comportamento dos C-levels e em especial dos CEOs tem sido analisado por diversos campos do conhecimento, pois em muitos casos principalmente após o período da pandemia alguns comportamentos passaram a ser percebidos como ultrapassando os limites da conduta aceitável.
Será que as pessoas se tornaram mais sensíveis e menos tolerantes com comportamentos que antes tocavam o abuso, mas não eram percebidos. A verdade é que aumentaram muito os casos de executivos envolvidos em situações não muito claras com denuncias de comportamentos ligados a esse tema. É possível que as empresas estejam colaborando para criar líderes psicopatas, como falam alguns artigos? Como perceber quando o comportamento desse ‘líder herói’ prejudica os objetivos da organização e ameaça o desenvolvimento dos colaboradores?
O psicólogo Kevin Dutton, autor do livro The wisdom of psychopaths: lessons in life from saints, spies and serial killers" (A sabedoria dos psicopatas: lições em vida de santos, espiões e serial killers), 2018, afirma que entre as carreiras com o maior número de psicopatas está a de CEO. Para Jon Ronson, autor do best-seller The Psycopath Test: A test trough the madness industry (O teste do Psicopata: um teste através da indústria da loucura), aponta que 4% dos líderes de negócios e CEOs são psicopatas. Isso acontece porque muitos traços de psicopatas ainda são vantagens no mundo dos negócios, como falta de empatia, autoestima exagerada, falta de remorso, irresponsabilidade, impulsividade e comportamentos sexuais promíscuos. Além disso, passam também a ter o chamado “efeito raso”, com o qual as emoções e sentimentos das pessoas passam a ser rasos, superficiais e de curta duração. Qualquer semelhança dessas características com parte do mundo corporativo não é mera coincidência!
Para entender melhor as fronteiras dessa relação entre o saudável e o insano, pesquisei ainda a definição da psicopatia, e percebi que psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade antissocial são comportamentos caracterizados pelo padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros - que se inicia na infância ou começo da adolescência e continua na idade adulta. Ilustro essa informação dizendo que recentemente li uma publicação em uma rede social de network profissional que dizia que uma funcionária costumava ver no perfil do CEO da empresa uma série de postagens sobre liderança humanizada, mas que na prática ele tinha a conduta de gritar, assediar e não respeitar se quer os horários de trabalho dos seus colaboradores. Era alguém usando a fantasia de líder, dizia a publicação.
Que características da personalidade você exprime na sua forma de liderar?
Líderes muito aclamados podem desenvolver um certo ímpeto narcisista dentro das organizações. Mas veja só, esse ímpeto também impulsionou diversos líderes eficazes, poderosos e carismáticos ao longo da história. De modo geral, sem essa medida seríamos monótonos, mansos e sujeitos aos caprichos dos outros ao extremo. Isso fortalece o indício de que grandes executivos provavelmente precisam de algumas das qualidades de um narcisista para terem sucesso. Porém, a outra face desta moeda é que o líder individualista tende a fomentar a inveja, costuma não ter empatia e qualquer interesse quando envolve o outro. Os aspectos mais desfavoráveis dessa sua atitude são a necessidade de reconhecimento constante, a desvalorização das pessoas e o de ser um arrogante costumaz. Seria difícil para você pensar em um CEO com essas características?
De acordo com Peter Hawkins, professor de liderança na Henley Business School e líder de pensamento global em equipes de liderança, precisamos passar da liderança individual para a liderança coletiva e colaborativa. “O nível de complexidade com o qual devemos lidar hoje significa que, se o único ponto de integração for o CEO, o trabalho é impossível. Em vez disso, precisamos passar da liderança individual para a liderança coletiva e colaborativa. O colaborativo é importante: queremos ajudar as equipes a não serem uma equipe de líderes, mas uma equipe de liderança. Aqui está a diferença: uma equipe de líderes é onde você faz os líderes de equipe dizerem: “Tudo bem, diga-me o que está acontecendo em sua função”, e todos os outros se sentam passivamente. É uma equipe hub-and-spoke. Uma equipe de liderança, por outro lado, é aquela em que temos clareza sobre o que precisamos alcançar juntos e que não podemos alcançar trabalhando em paralelo”.
Como as organizações estão desenvolvendo os líderes de amanhã?
O processo de coaching ajuda, partir desse pensamento, a perceber a consciência sistêmica e a compreensão das interconexões na organização. Líderes autoconscientes não lideram apenas para si. Essa maneira de pensar e de se comportar ajuda a entender mais plenamente nossas respostas, nossa negação, nossa reatividade, nossos preconceitos. Redes de inteligência compartilhada são cada vez mais necessárias para resolver problemas complexos. A capacidade de um líder de se envolver no pensamento sistêmico e de aproveitar a inteligência coletiva tornou-se essencial para o sucesso da organização. O CEO que se comporta de maneira não empática, egoística e que carrega para si somente os frutos da vitória, ameaça a continuidade da sua carreira e a dos demais colaboradores. Da mesma forma coloca a empresa em risco por meio dos assédios e processos que pode gerar.
“Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente”. Fernando Pessoa, no livro do Desassossego.
De que forma você como executivo ou líder enfrentou um problema em relação ao seu comportamento e a forma de liderar? Como foi a sua reação diante da situação? O quanto você atua para trabalhar a liderança de maneira colaborativa? Comente aqui para enriquecer a reflexão.
Se deseja ter apoio de coach profissional para se desenvolver e amadurecer em relação ao assunto, entre em contato: jorge.dornelles.oliveira@ggnconsultoria.com.brWhats app (11) 96396.9951
Jorge Dornelles de Oliveira
Fevereiro de 2023
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