As síndromes psicológicas são caracterizadas por distúrbios e perturbações que comprometem a saúde mental, afetando não apenas o equilíbrio emocional, mas também a vida social, a percepção da realidade e, em muitos casos, a saúde física. É importante destacar que uma síndrome é definida por um conjunto de sintomas recorrentes, que se manifestam de forma consistente e interligada.
Antes de prosseguir, gostaria de ressaltar que não sou psicólogo e, portanto, utilizo o termo "síndrome" aqui a partir de uma perspectiva popular, baseada nos insights que obtive ao assistir ao filme Maria Callas [2025], estrelado por Angelina Jolie. Minha intenção é explorar, de maneira reflexiva, os conceitos que emergiram dessa experiência cinematográfica, sem a pretensão de uma análise técnica ou clínica.
O filme retrata os últimos meses de vida de Maria Anna Cecilia Sofia Kalogerópulos, mundialmente conhecida pelo seu nome artístico, Maria Callas, uma soprano greco-americana que revolucionou o mundo da ópera. Reconhecida por sua técnica impecável no bel canto, sua voz de alcance extraordinário e suas interpretações carregadas de profundidade psicológica, Callas foi aclamada como "La Divina", um título que consagrou seu legado artístico, especialmente em Paris, durante os anos 1970.
Como admirador da ópera e fã incondicional de Maria Callas, eu não esperava grandes surpresas ao assistir ao filme. No entanto, a produção revelou aspectos de sua vida que, até então, não haviam chamado minha atenção, mesmo eu conhecendo sua biografia e tendo acompanhado um pouco de sua trajetória conturbada no jet set internacional da década de 1970. O filme trouxe à tona nuances que ampliaram minha compreensão sobre a complexidade dessa figura icônica.
Maria Callas construiu, ao longo de sua vida, uma persona poderosa e icônica: "La Divina". No entanto, após uma série de eventos marcados pela perda parcial de sua voz e pela diminuição de sua qualidade vocal, ela se viu diante de um dilema angustiante: salvar Maria, a mulher por trás do mito, ou manter viva a persona de Callas, a diva inigualável. Para ela, renunciar a "La Divina" significava, de certa forma, deixar de existir.

Em seus últimos meses de vida, Maria travou uma batalha interna para preservar a imagem de "La Divina", lutando para manter não apenas sua voz, mas também seu corpo e sua presença artística. Essa luta a levou a sacrificar sua saúde, recusando-se a abandonar os medicamentos e hormônios que, em grande parte, contribuíram para a deterioração de sua voz e para outros problemas físicos, culminando em um ataque cardíaco que acelerou sua morte.
A vida dessa grande mulher nos oferece uma reflexão profunda e um alerta. Todos nós, em algum momento, corremos o risco de viver a "Síndrome de Callas: La Divina". Quantas vezes nos apegamos a personas que criamos – seja no trabalho, nos relacionamentos ou em outras áreas da vida – a ponto de negligenciar nossa essência? A história de Maria Callas nos convida a questionar até que ponto estamos dispostos a sacrificar nossa verdadeira identidade em nome de uma imagem idealizada. E, mais importante, nos desafia a encontrar um equilíbrio entre quem somos e quem desejamos ser, sem perder de vista o que realmente importa: nossa humanidade.
É algo que nem sempre é fácil de perceber, pois vai muito além da simples busca pela perfeição. Trata-se de uma tensão constante entre o que chamo de "Persona Central" – nossa essência mais autêntica – e as diversas personas que criamos para nos relacionarmos com o mundo. A "Síndrome de Callas: La Divina" se manifesta quando uma dessas personas assume um papel tão dominante que, por diversas razões, não conseguimos mais sustentá-la. Seja porque estamos envelhecendo, perdendo habilidades, ou porque a motivação interna já não é a mesma, o desequilíbrio se instala.
O grande perigo está em não termos uma Persona Central sólida o suficiente para nos manter firmes quando as outras personas desmoronam. Essa Persona Central é a base que nos permite continuar vivendo, adaptando-nos e até mesmo criando ou modificando outras personas conforme as circunstâncias da vida. No dia a dia, somos constantemente desafiados a superar limites que nos levam a novos patamares, até chegarmos a um ponto em que precisamos fazer escolhas difíceis: talvez não possamos mais ser o pai ou a mãe perfeitos, o profissional brilhante ou a pessoa sempre disponível para todos.
Aceitar que algumas personas precisam ser ajustadas ou até mesmo sacrificadas é, sem dúvida, um caminho saudável para escapar da "Síndrome de Callas". No entanto, essa não é uma tarefa simples. Exige que entendamos nossos verdadeiros limites e enfrentemos nossos sabotadores internos – aquelas vozes que nos dizem que nunca somos bons o suficiente ou que devemos sempre agradar aos outros. Esse processo de autoconhecimento e aceitação é profundo e poderia render um outro artigo. Diante disso, fica a reflexão final: onde, em sua vida, você percebe que pode estar vivendo essa síndrome? Em que momentos a persona que você criou para o mundo está consumindo sua essência? E você? Em que áreas da sua vida percebe que pode estar vivendo a Síndrome de Callas?
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Jorge Dornelles de Oliveira
Março de 2025
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