Você já fez alguns cursos online, concluiu o projeto de um livro que nunca tinha saído da cabeça, pegou um ritmo tão bom nas aulas de exercícios físicos pelo YouTube que chegou a emagrecer. No embalo de ocupar os seus dias de isolamento social foi muito além da façanha de fazer um pão caseiro, e quando alguém te pergunta se está tudo bem, não hesita em responder: e por que não estaria? Está tudo tão bem que ainda não caiu a ficha de como será deixar de ser um avatar e voltar ao dia a dia de trabalho com aquelas mazelas de sempre, trânsito, estresses alheios, enfim, coisas corriqueiras mas completamente fora do seu contexto atual.
Em resumo, você é apenas um avatar que resiste em sair da fase de negação. Sempre sonhou com a pílula da felicidade mas se contenta com um comprimido para sorrir, ou outro que apague tudo de ruim que não deseja lembrar. No momento, o ideal seria um para tomar coragem pois mesmo com os novos protocolos de biossegurança adotados pelas empresas, está difícil prever as próximas fases ou o destino final desse game. Não seria o caso de resetar tudo e começar de novo, em outras bases?
Como será que as empresas estão vislumbrando o futuro dos escritórios?
O homeoffice veio para ficar?
Quais serão os grandes desafios? De ordem econômica, política ou social?
E o trabalho dos coaches diante desses novos universos? Como ficará?
O coaching que praticamos hoje sofre forte influência da Psicologia Positiva, que surge nos estados unidos no final dos anos 90, e que de certa forma supervalorizava o fun e wonderful, e se encaixava perfeitamente numa realidade idealizada, onde não há espaço para sombras, infelicidade ou introversão – a liderança do Neocórtex, rei das vontades e da razão, prevalecendo sobre o sistema límbico, aquele das emoções.
Como uma atividade viva, entretanto, o coaching acompanha as demandas da sociedade. Da mesma maneira, somos forçados a explorar caminhos inusitados, parecidos com aqueles percorridos pelos neurônios que criam novas redes de sinapses para restaurar a conexão interrompida, quando as vias convencionais já não mais funcionam – na chamada neuroplasticidade.
Ao invés dos prozacs de outrora, que anestesiavam sentimentos, somos convidados a encarar uma via orgânica de crescimento que passa por enfrentar o silêncio e o sofrimento, sentimentos que ganham em intensidade com essa enorme pedra que se colocou no caminho da humanidade. No lugar de deixarmos nos infantilizar, delegando ao poder publico a prerrogativa de determinar de que maneira vamos agir, nesse momento de dificuldade, é necessário encarar a nossa sombra para adquirir consciência.
Em compensação, ao nos abrirmos para novas experiências podemos refazer nossas configurações de forma mais natural e equilibrada. As relações são o campo onde os cérebros límbico e o neocórtex são desafiados a encontrar harmonia. Dai por que o paradigma do coaching, na atualidade, tem sido observar e vivenciar o fenômeno em todo o seu espectro, e isso somente acontece quando estamos prontos a nos deparar com o nosso próprio reflexo, no espelho do outro.
Ainda não é possível avistar com nitidez os contornos dos novos cenários que já despontam no horizonte. Mas independente de como as empresas trilhem seus novos caminhos, teremos que nos mexer, abandonando a fase de negação ou do apego às vestimentas de avatar. O chamado é para que possamos fundir várias dimensões e não mais nos atermos àquilo que foi ou será mas simplesmente aceitar novos portais de evolução.
Em que momento você se encontra ?
Como está se preparando para atuar pós- pandemia?